O Estado de São Paulo, n. 46756, 22/10/2021. Política p.A10

 

Comissão se divide sobre proibição de 'kit covid' para pacientes do SUS

 

Vinícius Valfré

Lorenna Rodrigues

 

A comissão do Ministério da Saúde responsável pela análise técnica de novas tecnologias e medicamentos do Sistema Único de Saúde (SUS) se dividiu, ontem, ao analisar a exclusão definitiva do uso na rede pública do chamado "tratamento precoce" em casos de covid-19. Por um placar de 6 a 6, terminou empatada a votação sobre o estudo que condena remédios como hidroxicloroquina e azitromicina no tratamento ambulatorial de pacientes – ambos são contraindicados para o novo coronavírus. Com isso, o tema saiu do colegiado sem recomendação contrária ou favorável e será submetido a consulta pública.

Cinco dos sete integrantes do Ministério da Saúde que integram a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) foram contrários à aprovação do relatório que barra o "kit covid" no SUS. O sexto voto foi do representante do Conselho Federal de Medicina (CFM). Em segunda votação, por sete votos a cinco, a comissão decidiu abrir um prazo de dez dias para consulta pública sobre o tema.

Em maio, a Conitec havia reprovado o uso dessas drogas para pacientes hospitalizados. De acordo com o documento, não existe remédio, até o momento, que, se usado precocemente, pode alterar o curso natural da doença. O documento deixava claro que há evidências de que a azitromicina e a hidroxicloroquina são ineficazes – não funcionam no tratamento da doença e não devem ser usadas.

O uso indiscriminado de medicamentos do "kit covid" é incentivado pelo presidente Jair Bolsonaro e por aliados como um falso "tratamento precoce". A campanha do presidente em favor desses remédios sem eficácia é um dos tópicos do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid.

Ontem, na Paraíba, ele voltou a citar uma suposta eficácia do "tratamento". "Também fui acometido (pela covid19). Tomei hidroxicloroquina. No dia seguinte estava bom", afirmou Bolsonaro.