O Estado de S. Paulo, n. 46718, 14/09/2021. Metrópole, p. A13

Falta de 2ª dose da Astrazeneca atinge 4 Estados

Eduardo Gayer
Mariana Hallal


Cidades de ao menos quatro Estados já registram falta da segunda dose da vacina da Astrazeneca e outros dois alertam que estão com os estoques baixos. Para evitar prejuízos à imunização, as secretarias estaduais de Saúde estão a aplicando uma segunda dose de Pfizer em quem recebeu a primeira de Astrazeneca. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, no entanto, criticou essas decisões, chamando de "torre de Babel" esse critérios de aplicação.

O estoque da Astrazeneca acabou em cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Maranhão. No Ceará e no Espírito Santo, as doses estão no fim. Já o Rio Grande do Sul diz ter vacinas para cobrir apenas 39% da demanda até o dia 23 e aguarda os 61% restantes.

A situação é semelhante no Rio Grande do Norte e no Acre, que dizem que o estoque (de Astrazeneca) está acabando. Por isso, eles poderão ampliar o intervalo entre a primeira e a segunda dose. Santa Catarina tem vacinas suficientes até o dia 23.

Nove Estados não vivem o problema: Alagoas, Amazonas, Bahia, Goiás, Pará, Paraíba, Paraná, Roraima e Tocantins afirmam não sofrer com a falta de Astrazeneca, assim como o Distrito Federal. A maioria diz que guardou vacinas suficientes para a segunda dose. Procurados pela reportagem, Amapá, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí, Rondônia e Sergipe não responderam.

Exceção. Para Queiroga, os gestores de saúde só deveriam utilizar vacinas da Pfizer como segunda dose em casos excepcionais. Se, por ventura, a Astrazeneca, por motivos operacionais, faltar, eventualmente pode-se usar a intercambialidade. Mas o critério "não pode ser faltou um dia e já troca. Se não, a gente não consegue avançar", alertou o ministro.

"A ideia é que a vacina seja homóloga. A dose heteróloga é para o reforço ou dose adicional", acrescentou. "E isso (dose adicional) é para idosos acima de 70 anos e imunocomprometidos. Há Estados que já anunciaram que vão vacinar acima de 60 anos. Como conseguimos conduzir uma campanha de vacinação com essa espécie de torre de babel vacinal?".

São Paulo. O Estado de São Paulo tem cerca de 1 milhão de pessoas que não receberam a segunda dose da Astrazeneca por falta do imunizantes e decidiu aplicar a partir de ontem a Pfizer para evitar atrasos. Em relação à Coronavac como dose de reforço, Queiroga voltou a cobrar a apresentação de dados pelo Instituto Butantan à Anvisa, para liberar o seu registro definitivo. "O que a ciência tem apontado é que sistema heterólogo é mais eficiente", afirmou o ministro sobre a dose de reforço.

A pasta da Saúde não recomenda o uso de Coronavac em idosos – o que tem acontecido em São Paulo. "Eu falo para gestores de saúde: sigam o PNI e juntos vamos fazer uma campanha mais eficiente".

Queiroga ainda minimizou o surgimento de variantes do novo coronavírus. "A cada dia a gente constata que não será um problema tão grande como temíamos", afirmou a respeito da variante Delta. "E a variante Mu é de importância, mas não ainda de preocupação."

Estoque. Nove Estados e o Distrito Federal dizem ter guardado vacinas da Astrazeneca suficientes para a segunda dose: Alagoas, Amazonas, Bahia, Goiás, Pará, Paraíba, Paraná, Roraima e Tocantins.

Apesar da dificuldade em se encontrar vacinas de Astrazeneca em todo o País, Marcelo Queiroga afirmou, ontem, que o intervalo entre doses do imunizante será diminuído de 12 para 8 semanas a partir do próximo dia 15.

A redução do intervalo da Pfizer a partir de setembro já havia sido anunciada por Queiroga no mês passado. Já a Coronavac tem intervalo menor, de 28 dias, enquanto a vacina da Janssen é de dose única.

Apesar das mudanças nos intervalos e dos debates a respeito, os critérios adotados ainda diferem das recomendações feitas pelas fabricantes. A Pfizer, por exemplo, recomenda intervalo de 21 dias entre as doses e a Astrazeneca, de 12 semanas, como acontece hoje.