O Estado de S. Paulo, n. 46714, 10/09/2021. Política, p. A6

Bolsonaro recebe caminhoneiros, que mantêm ato

Amanda Pupo
Murilo Rodrigues Alves
Cássia Miranda
Marlla Sabino
Isadora Duarte
Levy Teles


Mesmo depois do apelo feito pelo presidente Jair Bolsonaro para evitar uma crise de desabastecimento no País, caminhoneiros mantiveram ontem a mobilização iniciada no dia 7 de Setembro com obstrução de trechos de rodovias em ao menos 14 Estados. Em reunião com o próprio presidente e o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, em Brasília, organizadores dos atos disseram que iriam continuar mobilizados até serem recebidos pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). A atitude dos caminhoneiros causou constrangimento ao governo.

A intenção do grupo é pressionar o chefe do Congresso a abrir processo de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), principal alvo de Bolsonaro na Corte. Um pedido apresentado pelo chefe do Executivo no mês passado foi rejeitado por Pacheco. Ontem, Bolsonaro divulgou nota na qual recua dos ataques a Moraes e elogia o ministro.

“Estamos aguardando sermos recebidos pelo senador Rodrigo Pacheco. Até que isso seja realizado estamos mobilizados em todo o Brasil”, afirmou Francisco Dalmora Burgardt, conhecido como Chicão Caminhoneiro, que disse não ser possível adiantar quais reivindicações estarão no documento destinado a Pacheco. Procurado, o presidente do Senado não respondeu se receberia o grupo.

Em ‘live’ nas redes sociais, Bolsonaro afirmou que os caminhoneiros fizeram “uma coisa fantástica”, mas se o movimento não acabar até domingo o País terá problema de desabastecimento. “Deram um recado para todos nós”, disse.

As concentrações preocupam distribuidoras de combustíveis, que temem desabastecimento. Anteontem à noite, numa tentativa de conter os protestos, Bolsonaro gravou um áudio, e Tarcísio de Freitas um vídeo, com apelos pela desmobilização. Na mensagem, Bolsonaro trata os caminhoneiros como “aliados” e diz que as obstruções das vias “atrapalham nossa economia”.

Em vídeo divulgado ontem, um dos principais incentivadores dos protestos, o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, o Zé Trovão, tentou dissociar os atos com a defesa do presidente. Foragido da Justiça, ele segue dando orientações a manifestantes pelas redes sociais (mais informações nesta página).

Em boletim divulgado à noite, o Ministério da Infraestrutura informou que, naquele momento eram registrados “pontos de concentração” em rodovias federais de 10 Estados, com “pontos isolados” em outros 4, e que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) conseguiu zerar bloqueios nas estradas.

A região Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) concentrava mais da metade das ocorrências registradas ontem. Segundo o boletim, havia aglomerações em Rondônia, Mato Grosso do Sul, Bahia, Pará, Mato Grosso, Goiás e Tocantins. De acordo com a Pasta, havia um único ponto de manifestação no Maranhão, Minas Gerais, Roraima, Piauí e no Rio.

Em Brasília, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal informou que a Esplanada do Ministérios, que foi tomada por caminhões desde segunda, deve ser liberada hoje. / Amanda Pupo, Murilo Rodrigues Alves, Cássia Miranda, Marlla Sabino, Isadora Duarte e Levy Teles

Atos

14

Estados registraram ontem atos de caminhoneiros, com obstrução parcial de rodovias, segundo o Ministério da Infraestrutura.