O Estado de S. Paulo, n. 46712, 08/09/2021. Política, p. A10

Bolsonaro chama reunião de Conselho do Governo
André Shalders
Breno Pires


Um dia após participar de atos com bandeiras antidemocráticas em Brasília e em São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro reunirá seu Conselho de Governo na manhã de hoje, a partir das 9h30. O colegiado é formado por ministros do próprio governo e pelo vice-presidente, Hamilton Mourão.

Durante discurso em Brasília em qual fez novas ameaças ao Congresso e ao Supremo, o presidente afirmou que a reunião seria do Conselho da República, colegiado convocado para avaliar pedidos de intervenção federal ou de decretos de estado de sítio ou de defesa. A menção ao colegiado foi interpretada por políticos como mais um aceno em direção a uma eventual ruptura institucional.

Ao citar esse encontro, Bolsonaro disse que os presidentes da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, seriam chamados a participar para, como insinuou, serem enquadrados por ele. Os três, porém, se prontificaram a afirmar que desconheciam a agenda. E o presidente do STF disse que recusaria.

“Amanhã, estarei no Conselho da República. Juntamente com os ministros. Para nós, juntamente com o presidente da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal, com esta fotografia de vocês, mostrar para onde nós todos deveremos ir”, disse Bolsonaro no palanque da capital federal. Após a repercussão negativa auxiliares do presidente trataram de divulgar a versão de que ele havia se equivocado e estava se referindo a reunião de ministros.

O Conselho de Governo que se reúne hoje tem caráter consultivo, para discutir ações da gestão federal. É o próprio presidente quem convoca os membros para a reunião e designa um deles para presidir o encontro. Dois ministros ouvidos pelo Estadão afirmaram que a pauta da reunião será a análise dos atos desta terça-feira, 7, e negaram que a convocação do Conselho da República esteja entre os temas do encontro.

Segundo pessoas que acompanham o assunto, a Casa Civil da Presidência da República, que é a responsável por organizar as reuniões, não estava trabalhando para promover qualquer encontro e foi pega de surpresa pela fala de Bolsonaro em Brasília.

Em seu discurso em São Paulo, onde manteve o tom de ataques ao Supremo, Bolsonaro não mencionou qualquer encontro com integrantes de outros poderes.

Avaliação. Embora a expectativa de público fosse maior, o núcleo político do governo comemorou o resultado das manifestações. Avaliou-se que Bolsonaro demonstrou capacidade de mobilização, o que é raro entre políticos atualmente, e deixou claro que o apoio a ele não é apenas virtual.

Ao longo do dia, ministros acompanharam as reações nas redes sociais e o resultado, segundo um levantamento encomendado por pessoas próximas ao chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, foi de que houve uma divisão quase pela metade entre os que se mostraram a favor e contra o ato promovido pelo mandatário.

O monitoramento feito pela AP Exata, contudo, mostra um placar diferente. Foram 63% de menções negativas e 37% positivas. As hashtags contrárias ao governo se sobressaíram somando 52,4%, as a favor somaram 24%. No fim da tarde, das cinco hashtags mais comentada, três eram críticas a Bolsonaro e pediam seu impeachment.