O Estado de São Paulo, n. 46743, 09/10/2021. Economia p.B2

 

Boas-festas

 

José Márcio Camargo 

PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC/RIO (APOSENTADO), É ECONOMISTA-CHEFE DA GENIAL INVESTIMENTOS


Os últimos dados do mercado de trabalho brasileiro, tanto do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) como da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, mostram uma retomada forte da geração de postos de trabalho a partir de maio de 2021. Os dados do Caged, empregos formais, já mostram comportamento positivo desde o início do ano, e agosto não fugiu a esta regra. Foram gerados 372 mil postos de trabalho com carteira assinada no mês. Todos os setores de atividade estão gerando empregos formais e os destaques dos últimos meses foram os setores de comércio e serviços (77,8 mil e 179,5 mil empregos formais em agosto, respectivamente). Com isso, o total de empregos com carteira assinada gerados entre janeiro e agosto de 2021 atingiu 2,2 milhões. Um recorde da série histórica.

Os dados da Pnad Contínua, que cobrem o mercado de trabalho formal e informal, foram, no início do ano, um importante contraponto ao Caged. Após um final de 2020 relativamente positivo, com a geração de 1,7 milhão de postos de trabalho no trimestre novembro 2020/janeiro 2021, a geração de postos de trabalho informada pela Pnad Contínua desacelerou fortemente, atingindo o nível mais baixo no trimestre janeiro-março, quando houve a destruição de 541 mil postos de trabalho. Também neste caso os setores comércio e serviços foram os mais atingidos negativamente.

Esta disparidade entre as pesquisas gerou importante debate sobre qual delas melhor refletiria o desempenho do mercado de trabalho. Para alguns analistas, as mudanças metodológicas introduzidas no Caged estariam superestimando o desempenho do mercado de trabalho. Para outros, fatores técnicos relacionados à incapacidade de manter as entrevistas presenciais e a defasagem temporal estariam criando um viés negativo para a Pnad Contínua.

Entretanto, além destes problemas técnicos, a desaceleração detectada pela Pnad Contínua está também relacionada à piora do cenário da pandemia. O aumento do número de casos e de óbitos a partir de janeiro de 2021 levou a uma intensificação das medidas de isolamento social, controle de mobilidade urbana e forte redução na demanda por trabalho nos setores de comércio e serviços, que concentram parte significativa do emprego informal.

A evolução da pandemia a partir de junho de 2021, saindo de uma média móvel de óbitos próxima a 3,5 mil/dia em maio para menos de 500/dia em outubro, está permitindo flexibilização das medidas de restrição à mobilidade e de distanciamento social e aumentou a percepção de segurança da população, que começou a voltar às ruas, a frequentar bares, restaurantes, eventos, estádios, etc. O resultado é o crescimento na demanda por serviços, principalmente dos serviços de alimentação, comércio de rua, alojamento, entre outros grupos que são muito intensivos em mão de obra pouco qualificada e informal.

O reflexo desta mudança de comportamento sobre os dados da Pnad Contínua foi imediato. No trimestre terminado em maio foram criados 715 mil postos de trabalho; no terminado em junho, 2,1 milhões; e no terminado em julho, 3,1 milhões de postos de trabalho. Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego, que atingiu

A persistir a trajetória de melhora da pandemia, recuperação de comércio e serviços vai se intensificar

14,7% da força de trabalho no trimestre terminado em abril, entrou em trajetória de queda acentuada, chegando a 13,7% da força de trabalho no trimestre encerrado em julho. Uma redução de 1 ponto de porcentagem em três meses. E, como esperado, são os setores de comércio e serviços que comandam a retomada.

Caso a pandemia persista na trajetória de melhora, a recuperação dos setores comércio e serviços vai continuar a se intensificar, o que vai acelerar a geração de postos de trabalho, principalmente de trabalhadores pouco qualificados e informais. Com isso, a taxa de desemprego deverá continuar em queda e a geração de postos de trabalho, principalmente informais, em elevação.