O Estado de S. Paulo, n. 46708, 04/09/2021. Política, p. A6

CNBB defende respeito aos Poderes

Felipe Frazão


A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) orientou em vídeo os brasileiros a não se deixar convencer por "quem agride o Legislativo e Judiciário". O presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores têm conclamado cristãos a aderir às manifestações pró-governo. Isoladamente, padres conservadores haviam estimulado católicos a participar.

Em vídeo sobre o 7 de Setembro com um recado ao presidente Jair Bolsonaro, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) orienta os brasileiros a não se deixar convencer por "quem agride o Legislativo e Judiciário". "A existência de três Poderes impede totalitarismos, fortalecendo a liberdade de cada pessoa", disse o presidente da CNBB, d. Walmor Oliveira de Azevedo. "Independentemente de suas convicções político-partidárias, não aceite agressões às instituições que sustentam a democracia."

D. Walmor afirmou na mensagem divulgada ontem que o País "está sendo contaminado por sentimento de raiva e de intolerância" e se opôs a bandeiras de Bolsonaro, entre elas o incentivo à compra de armas de fogo por civis e a flexibilização do acesso ao porte.

"Muitos, em nome de ideologias, dedicam-se a agressões e ofensas, chegando ao absurdo de defender o armamento da população. Quem se diz cristã ou cristão deve ser agente da paz, e a paz não se constrói com armas", disse o clérigo.

Bolsonaro e seus apoiadores apelaram ao discurso religioso para conclamar cristãos de diferentes vertentes a aderir às manifestações pró-governo. Isoladamente, padres conservadores haviam estimulado católicos a participar dos atos.

Além do apoio ao presidente, a pauta tem dois assuntos já superados no Congresso: a adoção do voto impresso e o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal. Parte dos bolsonaristas também defende uma intervenção militar, em discurso de viés golpista. Pastores de igrejas evangélicas engrossaram as convocações do movimento bolsonarista, alegando a defesa da liberdade de expressão e de culto.

'Vida'. A cúpula da principal entidade da Igreja Católica no País demonstrou preocupação com possíveis atos violentos e pediu respeito à vida durante as manifestações de rua no Dia da Independência, diante do agendamento de manifestações contra e a favor do governo.

"Respeite a vida e a liberdade de seu semelhante. Aquele com quem você não concorda é também amado e tem uma família que aguarda o seu retorno com segurança", apelou d. Walmor. "As desavenças não podem justificar a violência, a intolerância nos distancia da Justiça e da paz, afasta-nos de Deus." O vídeo com a mensagem de d. Walmor e uma oração tem pouco mais de sete minutos.

O presidente da CNBB também citou a alta da inflação e do desemprego, da fome e da miséria, pautas que o governo evita comentar, e também cobrou a defesa de povos indígenas.

"Não podemos ficar indiferentes a essa realidade que mistura o desemprego e a alta inflação, acentuando gravemente exclusões sociais. São urgentes políticas públicas para a retomada da economia, e a inclusão dos mais pobres no mercado de trabalho", disse o religioso.

Também arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, d. Walmor sugeriu aos católicos que olhem pelos que estão sofrendo e defendam a proteção ambiental, por causa das mudanças climáticas, e os indígenas, em meio ao julgamento, no Supremo Tribunal Federal (STF), da tese do "marco temporal" para a demarcação de terras indígenas.

Ele afirmou que as comunidades indígenas "enfrentam grave ameaça" do poder econômico, além de terem sido historicamente perseguidas e dizimadas. "Nossa pátria não começa com a colonização europeia", disse o bispo católico, segundo quem o poder empresarial tenta "manipular instâncias de decisão e alterar marcos legais para avançar sobre terras indígenas, dizimando a natureza, os povos originais e a sua cultura".

O líder dos bispos católicos afirmou ainda que a pandemia da covid-19 "é mal que ainda nos ameaça", sugeriu respeito às medidas de distanciamento social e definiu a vacinação como uma "tarefa cristã".