O Estado de S. Paulo, n. 46705, 01/09/2021. Economia, p. B7

Desemprego recua para 14,1% em junho

Daniela Amorim 
Cícero Cotrim
Guilherme Bianchini


Em meio à reabertura de estabelecimentos comerciais e ao avanço da imunização contra a covid-19, a taxa de desemprego recuou de 14,7%, no primeiro trimestre, para 14,1% no trimestre encerrado em junho deste ano, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados ontem pelo IBGE.

O País ainda tem 14,444 milhões de pessoas sem trabalho. Apesar do contingente elevado de desempregados, o resultado da Pnad Contínua surpreendeu positivamente a maioria dos analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast. A estimativa era de uma taxa de 14,5%, na mediana, no segundo trimestre.

"Olhando não apenas o desemprego, mas também os índices qualitativos, foi uma divulgação positiva do mercado de trabalho, em linha com o que está acontecendo na economia como um todo, observando basicamente o progresso da vacinação, reabertura econômica, retorno das atividades à normalidade", avaliou o economistasênior do Banco ABC Brasil Daniel Xavier.

A recuperação do emprego para patamares pré-pandemia ainda vai depender do desempenho da atividade econômica e do impacto da inflação no poder de compra das famílias, que influencia a demanda doméstica, acredita Adriana Beringuy, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.

"Um fator que opera de forma bastante favorável para a recuperação do mercado de trabalho é a expansão da vacinação. Em muitas cidades do Brasil, você tem a primeira dose em pessoas com 18 anos. Então, o avanço da vacinação é bastante importante para a retomada", disse ela. "Mas a gente sabe que não depende só do avanço da vacinação. Existem outros fatores que operam decisivamente para a recuperação do mercado de trabalho, que responde a estímulos na economia."

Informalidade. Em apenas um trimestre, 2,141 milhões de pessoas conseguiram trabalho, embora mais de 75% delas continuem na informalidade. No segundo trimestre, 1,117 milhão de pessoas passaram a trabalhar por conta própria e sem CNPJ, ou seja, aderiram a esse tipo de atuação informal. O número de trabalhadores por conta própria subiu a um recorde de 24,839 milhões de pessoas em todo o País. Houve também criação de 618 mil vagas com carteira assinada no setor privado.

Embora haja mais pessoas trabalhando, a massa de salários em circulação na economia ficou 0,6% menor no segundo trimestre em relação ao que foi pago no primeiro trimestre deste ano, uma perda de R$ 1,199 bilhão. Houve uma redução de 3% na remuneração média do trabalhador, R$ 79 a menos, totalizando R$ 2.515.

A queda no rendimento médio pode ser explicada tanto pelo aumento da ocupação pelo canal da informalidade, que tradicionalmente tem remuneração mais baixa, quanto pela perda do poder de compra das famílias em função de pressões inflacionárias, apontou Adriana, do IBGE. "O que a gente vê é que as pessoas reduzem o consumo para compatibilizar com esse nível de renda."

Metodologia. Para o economista João Leal, da gestora de recursos Rio Bravo Investimentos, a melhora nos indicadores em junho foi puxada por um ajuste na metodologia da Pnad Contínua, que voltou a ter coleta presencial dos dados da pesquisa – o que deve gerar um novo resultado positivo em julho.

"A recuperação vai ser mais rápida em um primeiro momento por um ajuste estatístico dos dados, mas, depois, vai se tornar mais gradual", previu Leal.

O economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, concorda que o recuo da taxa de desemprego se deve à melhora na coleta de dados da Pnad Contínua, mas cita também a retomada econômica.

"A Pnad estava sendo feita inteiramente por telefone na pandemia. Como um terço da amostra é de junho, já tem o efeito do aumento do número de telefones e da retomada parcial da coleta presencial", lembrou Imaizumi.

A taxa de resposta da Pnad Contínua alcançou 59% para o trimestre até junho. A coleta referente à situação do mercado de trabalho no mês de junho permaneceu em campo até o dia 30 de julho, já com entrevistas presenciais, informou no mês passado o órgão, quando anunciou o retorno parcial das atividades presenciais.

O pior desempenho foi registrado na pesquisa do trimestre encerrado em março deste ano, quando a taxa de resposta foi de apenas 52,5%. Antes da covid19, a taxa de resposta da Pnad Contínua alcançava 89%. Segundo o IBGE, a coleta presencial é feita apenas nos casos em que não for possível obter os dados pelo telefone.