O Estado de São Paulo, n. 46694, 21/08/2021. Metrópole p.A24

 

Definição sobre terceira dose deve sair em outubro


Ministro da Saúde diz que há consenso sobre necessidade do reforço, mas avisa que vai esperar resultado de pesquisa científica

Júlia Marques

 

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse ontem que espera uma definição sobre a forma de aplicação da terceira dose da vacina contra a covid-19 no Brasil a partir de outubro, quando a pasta terá os resultados da pesquisa que vem sendo realizada para testar a eficácia da vacinação de reforço. Ele afirmou que há um consenso de que a injeção extra será necessária, mas que a decisão sobre como fazer a aplicação ainda depende de evidências científicas.

A terceira dose está em debate no Brasil diante da alta de infecções em algumas localidades, como o Rio, e do avanço da variante Delta, mais transmissível. Na quarta-feira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária recomendou que o ministério avalie a possibilidade de dar o reforço a grupos específicos que receberam as duas doses da vacina Coronavac.

Queiroga participou de um evento no Centro de Distribuição de Insumos Estratégicos de Saúde em Guarulhos, na Grande São Paulo, para demonstrar o processo de liberação das vacinas até a chegada aos Estados.

O ministério vem sendo criticado pela demora na distribuição dos imunizantes. Também é cobrado por alguns Estados mais adiantados no calendário de vacinação para dar um aval à imunização de reforço.

Segundo o ministro, “já há um consenso de que será necessária a terceira dose”. Ele disse, porém, que a decisão de como fazer essa aplicação pode decorrer da opinião de especialistas ou basear-se em evidências cientificas –e a pasta optou pela segunda opção. Queiroga lembrou que o ministério está conduzindo um estudo para avaliar a eficácia de uma terceira dose focada na Coronavac.

Essa pesquisa, em parceria com a Universidade de Oxford, deve ter resultados entre o fim de outubro e o início de novembro. Será aplicada a 3.ª dose de quatro imunizantes diferentes: Pfizer, Astrazeneca, Coronavac e Janssen. Queiroga afirmou que se antes dos resultados dessa pesquisa surgirem outros estudos científicos sobre a 3.ª dose, a decisão em relação ao reforço poderá ser antecipada.

O ministro também voltou a afirmar que o reforço depende do avanço da vacinação completa. No Brasil, o ministro espera que em setembro toda a população adulta esteja coberta com a primeira dose e, em outubro, 75% da população adulta tenha recebido as duas doses. “Aí teremos as repostas da ciência, que é o que se quer, para se aplicar a terceira dose.”

 

Crítica. Queiroga criticou a decisão de Estados e municípios de judicializar para receber mais vacinas. “O direito de recorrer à Justiça é de todos. Não observamos necessidade de recorrer à Justiça.” Nesta semana, o Estado de São Paulo conseguiu no STF decisão para que a União assegure o envio das vacinas contra a covid-19 necessárias para que o Estado complete a imunização de quem já tomou a primeira dose. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, também tem pressionado o governo federal por mais doses.

Para Queiroga, “em vez de ficar fazendo essas confusões, (os governos locais) deveriam trabalhar em parceria com o Ministério da Saúde para acelerar de maneira justa a vacinação no País’. Ele questionou o fato de que alguns Estados estão vacinando adolescentes, enquanto outros ainda estão aplicando o imunizante para a faixa etária dos 30 anos. A distribuição de doses, porém, segue os critérios estabelecidos pelo próprio Ministério da Saúde.

 

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Coquetel da Astrazeneca reduz em 77% risco de vulneráveis


Ainda não liberado, AZD7442 pode se mostrar eficaz em pacientes oncológicos ou transplantados

 

A farmacêutica anglo-sueca Astrazeneca anunciou ontem resultados promissores de um remédio contra a covid-19 que reduz o risco de que as pessoas vulneráveis – como transplantados ou pacientes oncológicos – desenvolvam a forma sintomática da doença. O produto, ainda não liberado para uso em hospitais, poderá ser um novo recurso para pessoas que precisam de reforço, além da vacina.

Esse tratamento com anticorpos – com codinome classificado como AZD7442 – não havia demonstrado, anteriormente, sua eficácia em pessoas que já estavam expostas ao vírus. No entanto, ao administrá-lo antes de entrar em contato com o Sars-cov-2, os resultados foram positivos, segundo comunicado da farmacêutica.

Esse coquetel, conforme a Astrazeneca, diminui em 77% o risco de se desenvolver uma forma sintomática, segundo dados de fase 3. Nessa etapa são conduzidos ensaios clínicos em grande escala projetados para medir a segurança e a eficácia. Os resultados – ainda não relatados em uma publicação científica – foram realizados em Espanha, França, Bélgica, Reino Unido e Estados Unidos, com 5. 197 participantes, dos quais 75% tinham comorbidades. O tratamento foi administrado por via intramuscular.

"Com esses resultados tremendos, a AZD7442 poderia se tornar uma ferramenta importante no nosso arsenal para ajudar as pessoas que podem precisar de mais do que uma vacina para recuperar a vida normal", disse o professor americano Myron Levin, da Universidade do Colorado, que esteve à frente dos ensaios.

"Necessitamos de outros enfoques para as pessoas que não estão bem protegidas pelas vacinas de covid-19", acrescentou Mene Pangalos, executivo da farmacêutica, que prometeu divulgar dados adicionais sobre os ensaios até o fim do ano.

O laboratório especifica que enviará um arquivo às autoridades de saúde para obter uso emergencial ou uma validação nas condições de tratamento, com desenvolvimento financiado pelos Estados Unidos. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS