O Estado de São Paulo, n. 46690, 17/08/2021. Política p.A7

 

Mourão diz ser 'difícil' impeachment no STF.


Vice-presidente confirma reunião com Barroso revelada pelo 'Estadão'; governadores fazem desagravo aos ministros da Corte

Eduardo Gayer

 

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse ontem ver com ceticismo a possibilidade de o Congresso dar andamento a pedidos de impeachment dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. "Acho difícil o Senado aceitar", afirmou o general a jornalistas na chegada ao Palácio do Planalto.

Mourão confirmou que esteve com Barroso na semana passada, para conversar sobre "temas da atualidade". O encontro, revelado pelo Estadão, ocorreu no dia 10, quando veículos blindados militares fizeram um desfile na Praça dos Três Poderes horas antes de a Câmara votar a proposta de implantação do voto impresso.

A conversa ocorreu na casa de Barroso. Preocupado com o risco de ruptura institucional, o ministro queria saber se as Forças Armadas embarcariam em uma aventura golpista promovida pelo presidente Jair Bolsonaro. "Conversamos sobre temas da atualidade. O ministro está criando uma comissão externa para a melhorar a auditoria (das urnas eletrônicas), então acho que foi um passo importante", afirmou Mourão. Após a divulgação do encontro, Bolsonaro declarou, no sábado, que pedirá ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o impeachment de Barroso e Moraes.

A jornalistas, o vice-presidente reiterou as críticas à prisão do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, autorizada por Moraes na semana passada. "Não considero que Roberto Jefferson seja uma ameaça à democracia. Acho que Alexandre de Moraes poderia ter tomado outra decisão sem mandar prender por opinião." Ainda na contramão de Bolsonaro, Mourão disse novamente confiar nas urnas eletrônicas "até que me provem o contrário".

 

Desagravo. Governadores de 13 Estados e do Distrito Federal emitiram uma nota conjunta ontem em solidariedade aos magistrados pelo que chamam de "constantes ameaçadas e agressões". "O estado democrático de direito só existe com Judiciário independente, livre para decidir de acordo com a Constituição e com as leis", afirma o texto, que não faz citação nominal a Bolsonaro.

Assinam o texto João Doria (PSDB), de São Paulo; Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul; Renato Casagrande (PSB), do Espírito Santo; Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal; Waldez Goés (PDT), do Amapá; Rui Costa (PT), da Bahia; Flávio Dino (PSB), do Maranhão; Paulo Câmara (PSB), de Pernambuco; Camilo Santana (PT), do Ceará; João Azevedo (Cidadania), da Paraíba; Wellington Dias (PT), do Piauí; Fátima Bezerra (PT), do Rio Grande do Norte; Belivaldo Chagas (PSD), de Sergipe; e Renan Filho (MDB), de Alagoas.