O Globo, n. 32716, 04/03/2023. Opinião, p. 3

O joio, o trigo e a transição energética

Jean Paul Prates


A separação do joio do trigo além de expressão corriqueira indicando que coisas distintas devem ser tratadas de modo diverso ilustra outra realidade. Enquanto o trigo pode ser transformado em alimento e pão, o joio não gera produtos e ainda atrapalha a produção do trigo.

No cenário brasileiro dos negócios de petróleo, sempre defendi que os campos maduros poderiam ser transferidos para empresas menores, com significativo impacto nas comunidades onde se situam, gerando desenvolvimento, emprego e renda para a população local. É importante que o leitor lembre que a extração de petróleo continua sendo uma atividade de capital intensivo e alto risco econômico. Uma incursão malsucedida numa campanha exploratória é capaz de gerar enorme prejuízo para uma empresa do porte da Petrobras, mas pode significar a falência de uma empresa menor, com fortes impactos locais.

A indústria do petróleo exige mão de obra especializada. Sem planejamento e sem critérios técnico e econômico, o risco operacional, a perda de valor do campo produtor e a mortalidade empresarial passam a ser possibilidades reais.

Risco operacional, na medida em que o adquirente de um campo maduro busque profissionais menos capacitados, devido a questões financeiras, potencializando riscos de toda sorte.

A perda de valor decorre da exploração inadequada do campo maduro, encurtando a sua vida produtiva. Por fim, a mortalidade de empresas, que pode ocorrer pela falta de uma estratégia responsável ou por uma visão de curto prazo, em desalinho com sua capacidade de alavancar recursos financeiros e técnicos qualificados. Assim, o novo entrante de hoje pode ser a massa falida de amanhã. Da mesma forma que a Idade da Pedra acabou não por falta de pedra, mas pela necessidade da evolução de novas tecnologias, a indústria do petróleo é ela mesma a grande protagonista da transição energética. Atualmente, a descarbonização e a limpeza da matriz energética passam por investimentos e são mais aderentes à responsabilidade social das empresas na busca de manejos sustentáveis que reflitam os anseios atuais da sociedade em prol da conservação do planeta.

Ao lado do biodiesel, que deve ser aprimorado e desenvolvido, a Petrobras caminha com a tecnologia de refino de óleos vegetais, que trará significativo impacto no ciclo de sustentabilidade do óleo de cozinha e ainda na descarbonização das próprias cidades. Há significativa diferença entre olhar para o futuro com metas de longo prazo na transição energética e iniciar o futuro já, com a retomada da pujança da maior empresa da América Latina  para que ela não seja só uma grande petroleira, mas se transforme numa empresa líder na transição e sustentabilidade energética.