Correio Braziliense, n. 21549, 17/03/2022. Brasil, p. 5

Medalha da discórdia

Deborah Hana Cardoso


O presidente Jair Bolsonaro (PL) foi condecorado, ontem, com a Medalha do Mérito Indigenista, honraria concedida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. A honraria é um “reconhecimento pelos serviços relevantes” relacionados à defesa das comunidades indígenas. A condecoração, cuja portaria foi assinada pelo ministro Anderson Torres, recebeu duras críticas, pois Bolsonaro ataca frequentemente questões relacionadas à causa indígena — como o marco temporal das demarcações das terras das comunidades nativas, que está sendo debatida no Supremo Tribunal Federal (STF) — ou defende a exploração mineral dentro das reservas.

A homenagem foi duramente criticada no Congresso e nas redes sociais. A única deputada indígena na Câmara dos Deputados, Joênia Walpichana (Rede-RR), lembrou que Bolsonaro sempre deu declarações contra os direitos dos povos nativos e atuou pelo desmonte das comunidades.

“Na semana passada na Câmara, por ordem dele, era prioridade a liberação do garimpo e mineração em terras indígenas. Já assinei pedidos de impeachment por violar os direitos dos povos indígenas. É o contrário do que essa medalha significa”, criticou.

Já o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) protocolou um projeto de decreto legislativo para sustar os efeitos da portaria que concede a medalha. Para o parlamentar, a honraria é uma agressão aos povos indígenas.

“O governo que mais afrontou os direitos indígenas tem o desplante do mérito indígena. O Congresso precisa votar o projeto para deixar claro que não compactua com essa afronta”, indignou-se.

A deputada federal Marília Arraes (PT-PE) publicou no Twitter: “Deboche! Bolsonaro, já denunciado por promover genocídio indígena por entidades ligadas aos direitos dos povos, receberá a Medalha do Mérito Indigenista. É inacreditável”.

O ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc também reagiu: “Só se for mérito por destruir nações indígenas, autorizar ocupação de terras e intoxicação por mercúrio. Vamos caçar essa vergonha!”, publicou.

A ativista Sonia Guajajara disse que “se já não bastasse todos os retrocessos que estamos enfrentando, uma medalha para Bolsonaro e aliados por seus ‘relevantes’ serviços aos povos indígenas. Absurdo!”

Em nota, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) repudiou a nomeação e classificou como deboche. “Esta manifestação repudia a portaria do Ministério da Justiça e Segurança Pública.”

O que ele disse

“Pena que a cavalaria brasileira não tenha sido tão eficiente quanto a americana, que exterminou os índios”
12 de abril de 1998

“Com toda a certeza, o índio mudou. Está evoluído. Cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós”
23 de janeiro de 2020

“Não tem terra indígena onde não têm minerais. Ouro, estanho e magnésio estão nessas terras, especialmente na Amazônia, a área mais rica do mundo. Não entro nessa balela de defender terra pra índio”
Abril de 2015

“Em 2019, vamos desmarcar (a reserva indígena) Raposa Serra do Sol. Vamos dar fuzil e armas a todos os fazendeiros”
21 de janeiro de 2016

“(reservas indígenas) sufocam o agronegócio. No Brasil não se consegue diminuir um metro quadrado de terra indígena”
22 abril 2015

“Se eleito, vou dar uma foiçada na Funai, mas uma foiçada no pescoço. Não tem outro caminho. Não serve mais”
21 janeiro 2016