O Globo, n. 32713, 01/03/2023. Política, p. 6

Coman­dante do Exér­cito nega frau­des nas elei­ções

Alice Cravo


O comandante do Exército, general Tomás Paiva, defendeu durante uma reunião com subordinados o resultado eleitoral que deu a vitória nas urnas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ano passado e que os militares, após um trabalho de fiscalização, não identificaram qualquer fraude no processo. A declaração foi dada a oficiais do Comando Militar do Sudeste, no dia 18 de janeiro, às vésperas de assumir o comando da Força.

No áudio, gravado por um participante da reunião e divulgada pelo podcast Roteirices, Tomás Paiva afirmou ainda que houve interferência política do ex-presidente Jair Bolsonaro nas Forças.

— Ele (Bolsonaro) teve mais votos nessa eleição do que ele teve na outra. Então, a diferença nunca foi tão pequena. Foi mínima. E aí o cara fala assim: ‘Pô, general, mas teve fraude’. Nós participamos de toda a fiscalização, fizemos relatório, fizemos tudo. Constatou-se fraude? Não —afirmou.

O general fez, na ocasião, uma apresentação sobre os acontecimentos políticos dos últimos meses, em que militares foram envolvidos em discussões eleitorais. Nesse contexto é que ele cita a interferência política de Bolsonaro nas Forças. Entre as ações apontadas, o militar citou uma suposta intenção de Bolsonaro de promover uma motociata na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) —vetada, segundo o general, pelo comando do Exército —, e a mudança do desfile do 7 de Setembro de Brasília para o Rio, onde bolsonaristas realizaram manifestação pró-governo.

— Algumas interferências do governo, diretas, na área militar. (...) A nova motociata de Bolsonaro será na Aman. Foi noticiado. Não ocorreu porque os nossos comandantes e generais convenceram o presidente de que não era uma coisa adequada ter uma motociata, que é um ato político de apoio ao presidente, dentro da academia militar. Dá para achar que isso é uma coisa adequada? —disse, ao completar:

— 7 de Setembro em Copacabana. Todo mundo acompanhou, o desfile no Rio de Janeiro. Onde era o desfile no 7 de Setembro no Rio? Eu estreei como cadete na (Avenida) Presidente Vagas no ano de 1979; 80 e 81 desfilei na Presidente Vargas. Esses anos que passou mudou (sic). Passou a ser em Copacabana. Não tem desfile, no final foi uma celebração, com algumas manifestações, mas para o povo está tudo misturado, o que é militar, o que não é militar.

Ao tratar das eleições, o comandante do Exército disse que houve uma “sensação” de irregularidades porque a disputa entre Lula e Bolsonaro foi apertada, mas ponderou que os militares se incumbiram de fiscalizar o processo e não encontraram nada:

— Essa sensação ficou porque foi apertada. Mas do ponto de vista do trabalho realizado pelo Exército, não aconteceu nada.