O Estado de S. Paulo, n. 46657, 15/07/2021. Metrópole, p. A17

Enem cobrará novo ensino médio em 2024

Júlia Marques


O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deverá estar alinhado com as diretrizes curriculares dessa etapa de ensino a partir de 2024. É o que define um cronograma publicado ontem pelo Ministério da Educação (MEC). O ensino médio terá mudanças em todo o Brasil, a partir do ano que vem, com a ampliação da carga horária para os estudantes e currículo mais flexível. Na prática, os alunos poderão escolher diferentes áreas para estudar.

Por causa das mudanças previstas para a etapa, o Enem, principal porta de entrada dos alunos no ensino superior, também terá de mudar. A atualização da matriz de avaliação do novo Enem vai ocorrer ao longo dos próximos anos para que, em 2024, a aplicação do exame já seja realizada conforme as novas diretrizes.

A reforma do ensino médio, válida para as redes pública e privada, cria diferentes trilhas de conhecimento definidas em itinerários formativos para os alunos (que podem ser cursos técnicos, profissionalizantes ou aprofundamento de estudos). Substitui a estrutura tradicional das disciplinas por formatos flexíveis – o que cria um desafio extra para a avaliação. Os alunos passarão a ter mil horas letivas por ano – e não mais 800 horas, como é hoje. A mudança é uma tentativa de resposta a uma escola tida como desinteressante pelos jovens e, portanto, com altos índices de evasão.

Neste ano deverá ocorrer a aprovação e homologação dos referenciais curriculares do ensino médio pelos Conselhos de Educação em cada um dos Estados. E as redes de ensino têm até fevereiro de 2022 para encaminhar ao MEC esses referenciais alinhados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que determina os objetivos de aprendizagem.

Levantamento do Observatório do Movimento pela Base mostra que 12 Estados já têm currículos para o ensino médio aprovados e homologados – São Paulo está nessa lista – e seis estão em processo de consulta pública. Vinte Estados e o Distrito Federal enviaram seus currículos para análise dos Conselhos de Educação.

"A virada de chave para a implementação do novo ensino médio ocorrerá em 2022", disse ontem o secretário da Educação Básica do MEC, Mauro Rabelo. O cronograma do MEC prevê que em 2022 sejam implementadas as mudanças curriculares no 1.º ano do ensino médio. Já em 2023, a implementação dos referenciais curriculares vai abranger o 1.º e o 2.º ano, para alcançar aos três anos da etapa em 2024. As matrizes do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), exame do MEC para medir a aprendizagem dos alunos, também deverão estar alinhadas ao novo ensino médio até 2024.

Na cerimônia ontem, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, chamou o novo ensino médio de "promessa que estamos pagando". A mudança para a etapa foi aprovada em 2017. "Nosso governo tem a missão de terminar o que os outros começaram"< disse. "Hoje, estamos aplicando algo criado em 2017. Uma promessa que estamos pagando, mas foi outro que fez."

Oração. Ele também fez uma oração pela saúde do presidente Jair Bolsonaro, internado ontem, e justificou o veto ao projeto que garante conectividade nas escolas. "Temos milhares de escolas que não têm esgoto, mas só se pensa em internet."

Sobre a volta às aulas, disse ter "passado vergonha" no exterior porque outros países já reabriram escolas. "E nós ficamos patinando. Ah, tem de vacinar o professor... Agora a conversa é vacinar os alunos. Com todo o respeito. Vai vacinar o cachorro do aluno? O passarinho? Assim, não volta mais. Precisamos voltar com todos os cuidados sanitários possíveis." / J.M.

Promessa

"Hoje, estamos aplicando algo criado em 2017 (novo ensino médio). É uma promessa que estamos pagando, mas foi outro que fez."

Milton Ribeiro

Ministro da Educação