O Globo, n. 32771, 28/04/2023. Política, p. 5

Braga é plano B do Pla­nalto para rela­to­ria de CPI

Camila Turtelli
Lauriberto Pompeu


Diante da resistência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em relação à indicação do senador Renan Calheiros (MDB-AL) para a relatoria da CPI dos Ataques Golpistas, o Palácio do Planalto já articula um plano B. O senador Eduardo Braga (MDBAM) passou a ser sondado por membros do governo, no início da semana, para a função.

Para o governo, a escolha de Braga neutralizaria possível desgaste com Lira, que é adversário político de Renan em Alagoas. Braga, no entanto, estaria resistindo à ideia de até mesmo ser membro da comissão. Interlocutores do senador avaliam que ele tem mais a contribuir com a articulação do governo nos bastidores.

Apesar de o requerimento de abertura da CPI já ter sido lido em plenário pelo presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e algumas siglas terem anunciado suas escolhas, alguns partidos só decidirão os nomes que indicarão na semana que vem, quando a CPI será instalada.

Em tese, o governo tem influência sobre dois blocos partidários que podem indicar 12 senadores. Mas, a depender das escolhas dos líderes, o número pode ser menor, já que algumas siglas têm divisões internas. O União Brasil do Senado, por exemplo, está num bloco governista, mas abriga nomes de oposição. A sigla tem direito a duas indicações, que só serão definidas após o feriado de 1º de maio. Cenário semelhante ocorre com o Republicanos na Câmara.

Revezamento

As posições de comando no colegiado, no entanto, ainda não estão definidas e dependem de um acordo entre Lira e Pacheco. As duas Casas costumam se alternar entre a presidência e a relatoria das comissões mistas, formadas por deputados e senadores. A última foi a CPI das Fake News, encerrada em 2020, que tinha o senador Ângelo Coronel (PSD-BA) como presidente e a deputada Lídice da Mata (PSB-BA) como relatora.

O MDB deve ter direito a indicar dois senadores e um deputado para a CPI. O time deve ser fiel ao governo.

Vice-líder do governo no Congresso e provável integrante da CPI mista, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) reconhece que o Planalto tenta negociar com os partidos os nomes a serem indicados:

— O governo tem que ir construindo, senão vai se indispor com muitos parlamentares importantes.

Em paralelo, lideranças da Câmara costuraram um acordo sobre o comando da enxurrada de CPIs a serem instaladas. O “blocão” de Lira (PP, União Brasil, PSB, PDT, Solidariedade, Avante, Patriota, PSDB e Cidadania) ficará com a posição de comando que couber aos deputados na CPI dos Ataques Golpistas. O nome mais cotado é o de Arthur Maia (União-BA). Desta forma, o segundo maior bloco, formado por MDB, Republicanos, PSD, Podemos e PSC, poderá escolher o posto que quer ocupar na CPI das Americanas. O blocão terá prioridade na investigação de suposta manipulação de apostas esportivas. Ainda não há acordo fechado sobre a CPI a do MST.

Na comissão, governo e oposição já começaram a colocar em prática estratégias para influenciar os rumos da investigação. O Planalto deve montar dois grupos com perfis distintos: um reunirá os “palanqueiros” e “bons de briga”, e o outro será formado por “técnicos”. Com expectativa de ter pouco mais de 20 parlamentares entre os 32 do colegiado, o primeiro grupo será encarregado de travar um embate direto com bolsonaristas, com capacidade rápida de resposta a provocações. A intenção é ajudar a pautar as redes sociais e ganhar a disputa de versões.

No segundo grupo, estarão nomes que farão a sustentação técnica para a preparação de depoimentos. A ideia é contar com a equipe para mostrar que apoiadores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro foram responsáveis pela depredação das sedes dos três Poderes.

Na oposição, com a colaboração de dois filhos de Bolsonaro, Flávio (PL-RJ) e Eduardo (PL-SP), parlamentares tentarão emplacar a versão de que os atos tiveram conivência do governo Lula. Para isso, pretendem explorar, por exemplo, imagens do ex-ministro do GSI, Gonçalves Dias, com invasores do Planalto.