O Globo, n. 32770, 27/04/2023. Política, p. 6

Governo demite mais 29 no GSI e planeja nova leva

Eduardo Gonçalves
Jeniffer Gularte


O ministro interino do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Ricardo Cappelli, demitiu ontem 29 funcionários que atuavam na pasta, incluindo três dos quatro secretários que compunham o segundo escalão. A maioria já trabalhava no GSI desde a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A medida faz parte do que Cappelli classificou como “processo de renovação” da pasta sob a presidência de Lula (PT), especialmente após as críticas à atuação do órgão nos ataques golpistas de 8 de janeiro em Brasília. O governo deve discutir hoje quando ocorrerá uma segunda leva de dispensas.

Cappelli recebeu determinação de Lula de fazer uma “limpa” no GSI após assumir interinamente o órgão, na semana passada, com a demissão do antigo titular, o general da reserva Gonçalves Dias. GDias, como é conhecido, pediu exoneração diante do desgaste causado, na última quinta-feira, pela divulgação de imagens do circuito interno de segurança do Palácio do Planalto que mostraram o próprio ministro e militares de sua equipe circulando entre os invasores golpistas.

Na segunda-feira, Cappelli declarou que já foram substituídos cerca de 35% dos servidores que atuavam no GSI, e disse que uma sindicância que apura a participação de membros da pasta nos atos golpistas deve ser concluída antes do fim de maio.

Os três secretários exonerados ontem são militares da ativa de alta patente: o brigadeiro Max Moreira, que ocupava a Secretaria de Assuntos de Defesa e Segurança Nacional; o almirante Marcelo Gomes, da Secretaria de Coordenação de Sistemas; e o general Marcius Netto, da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial.

Um dos exonerados por Cappelli foi o general Marcelo Goñes Sabbá de Alencar, que ocupava há cerca de uma semana o posto de secretário executivo adjunto do GSI. A lista incluiu ainda o chefe de gabinete da pasta, Jorge Henrique Luiz Fontes, que estava no órgão desde o governo Michel Temer (MDB).

Como o GLOBO noticiou anteontem, a demissão de GDias ampliou o clima de desconfiança com ocupantes de postos de comando do ministério que foram indicados pelo governo Bolsonaro ou são ligados à gestão anterior e permaneciam no Palácio do Planalto. O incômodo estava concentrado nas três das quatro secretarias em questão, além do titular do Departamento de Gestão, coronel Gladstone Barreira Jr., responsável pela nomeação de todos os militares lotados no Planalto.

Diálogo com comandante

As substituições do órgão devem continuar, mas com o cuidado de não criar ruído entre o Planalto e as Forças Armadas. Anteontem, antes dos desligamentos, o comandante do Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, foi informado sobre as demissões em conversa no Planalto. Coube ao próprio comandante informar aos generais Marcius Netto e Marcelo Goñes de suas exonerações.

Um dos principais desconfortos dizia respeito à atuação do general Marcius Netto, cuja pasta originalmente era a responsável por comandar a segurança presidencial, atribuição retirada do GSI no governo Lula. Com a criação da Secretaria Extraordinária Segurança Imediata do Presidente, atualmente sob gestão do delegado da Polícia Federal (PF) Alexsander Oliveira, o general ficou com a atribuição mais restrita à segurança do Palácio do Planalto. Houve, no entanto, tensão com a relação entre os policiais federais da Secretaria de Segurança Aproximada do Presidente e os militares.

Os dois outros secretários demitidos haviam chegado a seus postos no governo Bolsonaro. O brigadeiro Max Moreira, que era secretário de Assuntos de Defesa e Segurança Nacional, havia sido empossado em abril de 2022 pelo então ministro do GSI, Augusto Heleno, general da reserva e homem de confiança de Bolsonaro. Ele também integrou o Conselho Nacional da Amazônia Legal, presidido pelo ex-vice-presidente Hamilton Mourão, também

As substituições devem continuar, com o cuidado de não criar ruído com as Forças Armadas general da reserva.

Já o almirante Marcelo Gomes, ex-secretário de Coordenação de Sistemas, ocupava o posto desde novembro de 2021. Ele integrou o Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro.

Outro posto considerado chave no GSI, que era ocupado por nome indicado pelo governo anterior, é a Diretoria do Departamento de Gestão, onde o coronel Gladstone Barreira Júnior estava lotado desde abril de 2019. Por essa estrutura passaram não só todas as requisições e designações de militares lotados no Planalto na gestão de Bolsonaro, como também as mudanças realizadas nos primeiros meses do governo Lula.

Dois militares exonerados ontem pelo ministro interino do GSI haviam prestado depoimento à PF, no domingo, no âmbito do inquérito que apura os ataques golpistas de 8 de janeiro: o coronel Alexandre Santos Amorim, que estava lotado como assessor militar, e o também coronel André Luiz Garcia Furtado, que era coordenador-geral de Segurança de Instalações. As oitivas foram determinadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.