O Estado de S. Paulo, n. 46656, 14/07/2021. Economia, p. B12

Que saúde - ‘Healthtechs’ vivem fase de expansão

Bruno Romani


A pandemia impulsionou startups de todos os segmentos no Brasil – evidentemente, aquelas que atuam na saúde, conhecidas como “healthtechs”, também ganharam musculatura. Com o uso esperto de tecnologia, inteligência artificial (IA) e dados, elas vêm encontrando soluções para resolver alguns dos principais gargalos do segmento no País, como acesso à saúde, baixa eficiência e experiência de atendimento ruim – é um movimento que lembra o que as fintechs causaram no setor financeiro.

Era, porém, uma onda que estava destinada a acontecer. Startups costumam gostar de desafios que trazem oportunidades proporcionalmente grandes. É o caso da saúde no Brasil. O País está entre os dez principais mercados de saúde no mundo – segundo o dado mais recente do IBGE, o gasto com saúde é equivalente a 9,2% do PIB. Já o gasto das famílias com o segmento é equivalente a 5,4% do PIB.

Assim, a quantidade de “healthtechs” e o volume de investimentos cresceram em 2021. Segundo relatório obtido com exclusividade pelo Estadão, feito pela empresa de inovação Distrito, já existem 900 “healthtechs” no País, que receberam no primeiro semestre US$ 183,9 milhões. A marca é maior do que a soma dos cheques recebidos em 2019 (US$ 68,1 milhões) e em 2020 (US$ 109,5 milhões). Muitos no mercado garantem que o Brasil terá um “unicórnio” (startup avaliada em mais de US$ 1 bilhão) da saúde. A Distrito aponta três nomes: Alice, Dr. Consulta e Memed.

“Existe um ‘gap’ entre quem usa o SUS e quem usa o setor privado. As startups têm papel fundamental para mudar o mercado e oferecer uma nova via”, explica Raphael Augusto, sócio diretor de inteligência de mercado da aceleradora Liga Ventures. “O preço cai com o uso da tecnologia e do software. Isso seria impossível há alguns anos”, diz Igor Piquet, diretor de aceleração da Endeavor.

Com dinheiro na mesa e oportunidades no horizonte, porém, essas empresas ainda têm alguns desafios. “O poder de execução será fundamental para transformar a promessa em realidade. A taxa de mortalidade de startups ainda é alta”, diz Gustavo Araújo, presidente e fundador da Distrito.

Outro fator apontado em unanimidade por startups, investidores, gigantes do setor e especialistas é a regulação. Faz sentido: a saúde das pessoas não pode ser alvo de experimentos. Todos, porém, apontam que os órgãos responsáveis, como Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), conselhos de medicina e Ministério da Saúde, terão papel em fomentar a inovação – muitos apontam para a função que o Banco Central teve ao preparar o terreno das fintechs.

Com 14 segmentos diferentes, o setor de startups de saúde é gigante e complexo – a palavra “healthtech” é um guarda-chuva grande, que coloca junto nomes que oferecem software de gestão hospitalar, apps de bemestar, pesquisas em biotecnologia e hardware de monitoramento. Neste especial, vamos mostrar casos promissores de uso de tecnologia em setores que têm impacto direto na vida das pessoas: diagnóstico, planos de saúde e telemedicina.