O Estado de S. Paulo, n. 46655, 13/07/2021. Metrópole, p. A10

Três perguntas para...

Entrevista: Cássio Bernardino, coordenador de projetos do WWF-Brasil


1. Qual o quadro de queimadas no Pantanal hoje?

Entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, houve algumas chuvas no Pantanal. Isso controlou a situação dos incêndios. Este ano, houve baixas precipitações. Choveu mais ou menos a metade do esperado. O nível do rio (Paraguai) segue muito baixo. Em Mato Grosso do Sul, onde temos uma régua de monitoramento, era esperado nível de 3,5 metros, mas está em cerca de 1,5 m. O cenário de secas, rio baixo, baixa precipitação e o fim precoce das chuvas fizeram com que o fogo recomeçasse agora. Pela primeira vez este ano, verificamos o número de focos de calor superior ao de 2020. Neste julho, o aumento é de 26%. Há previsões de modelos estatísticos de que essa seca perdure. A expectativa dos especialistas é de que se comece a enfrentar um ano difícil em termos de incêndios no Pantanal.

2. O que é possível fazer para conter esse fogo?

Importante ter a conscientização das pessoas. Precisamos também introduzir novas técnicas na pecuária que possibilitem a pastagem sem uso do fogo, além de introduzir mecanismos de combate. Brigadas comunitárias são importantes porque são as primeiras a chegar no foco do incêndio; e é preciso maior aparato estatal.

3. Há semelhanças entre os eventos registrados em 2020 e os de agora?

É uma situação que se iniciou em 2019, com o recorde em foco de calor, níveis muito baixos do rio e precipitações menores. Em 2020, um pico, e agora em 2021 está se repetindo. Com o fim das chuvas, incêndios voltaram e o rio segue muito baixo. Claramente, o cenário é de mudanças climáticas na região. Tudo indica que há tendência de seca no Pantanal. E esses incêndios emitem gases estufa, contribuem ao aquecimento global e dizimam populações de animais e de plantas. / Ítalo Cosme, Especial Para O Estadão