O Globo, n. 32764, 21/04/2023. Saúde, p. 18

Taxa de vacinação de bebês no país é 2ª pior da América Latina



A vacinação infantil na América Latina e no Caribe regrediu dramaticamente para níveis de 30 anos atrás, em parte devido à pandemia de Covid-19, e agora 25% das crianças carecem de imunizações “críticas”, alertou o Unicef nesta semana.

“Esta é uma das crises de vacinação infantil mais graves que a região já viu em quase 30 anos”, disse o diretor do Unicef para a América Latina e o Caribe, Garry Conille, em comunicado.

“Por muitos anos”, a América Latina teve “uma das taxas de vacinação infantil mais altas do mundo, agora tem uma das mais baixas”, acrescentou Conille.

A situação da América Latina aparece em um relatório divulgado pelo Unicef. No texto, a agência da ONU aponta que a cobertura da terceira dose da vacina contra difteria, tétano e coqueluche entre menores de 1 ano caiu 18 pontos percentuais, passando de 93% em 2012 para 75% em 2021.

“Esta é a taxa de vacinação de rotina mais baixa da região em quase 30 anos, colocando a América Latina e o Caribe abaixo da média global (81%) e um pouco à frente da África Oriental e Meridional (74%)”, escreveu o Unicef.

A região ainda registra “o maior declínio global na última década”, alertou.

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância, na América Latina existem 2,4 milhões de crianças menores de 1 ano (uma em cada quatro) desprotegidas contra doenças evitáveis por falta de vacinação completa.

Venezuela (27%), Brasil (26%), Haiti (25%) e Bolívia (25%) registram os maiores percentuais de crianças menores de 1 ano sem vacina. No outro extremo estão Costa Rica, República Dominicana, Cuba, Chile e São Vicente e Granadinas, com só 1% de não imunizados.

Haiti (24%), Panamá (19%) e Venezuela (17%) têm o maior percentual de crianças menores de 12 meses com vacinação incompleta, enquanto Belize, Cuba e Costa Rica não apresentam casos.

— Falamos de quase todas as vacinas do programa de imunização, mas as que mais nos preocupam são as de difteria, tétano e coqueluche — disse à AFP Ralph Midy, assessor de imunizações do Unicef para a América Latina e o Caribe.

A situação fez com que doenças como difteria, sarampo e pólio, que se pensava terem sido erradicadas em muitos países, ressurgissem.

Segundo o Unicef, uma das principais causas da queda na cobertura da América Latina e Caribe foi a pandemia de Covid-19. No entanto, especificou que anteriormente já havia um declínio devido a problemas estruturais, falta de investimento nos cuidados primários, escassez de profissionais qualificados, vacinas e recursos.

— A instabilidade política e social prolongada piorou nos últimos dez anos, criando dificuldades em diferentes países —disse Midy.

Segundo o assessor, a pandemia acentuou os desafios que a região já enfrentava, “interrompendo a vacinação infantil devido às intensas demandas dos sistemas de saúde e às medidas de contenção”. Além disso, os movimentos antivacina “certamente tiveram um impacto, embora seja difícil medir.”