O Estado de São Paulo, n. 46673, 31/07/2021. Economia p.B1

 

Desemprego segue em nível recorde, indica IBGE; Guedes contesta dados

 

Vinicius Neder

Bruno Villas Bôas

 

Números divulgados ontem pelo IBGE mostram que o mercado de trabalho segue como uma das maiores preocupações da economia brasileira. A taxa de desemprego ficou em 14,6% no trimestre terminado em maio, apenas 0,1 ponto abaixo do nível de abril. São 14,795 milhões de desempregados, ainda nas máximas históricas. Logo após o anúncio dos dados, o ministro da Economia, Paulo Guedes, atacou o IBGE, subordinado à sua pasta. Guedes disse que o órgão vive na "idade da pedra lascada", ao criticar sua metodologia para retratar o mercado de trabalho.

O desemprego cresceu com mais pessoas em busca de uma ocupação, já que a evolução da população ocupada aponta para a criação de vagas, ainda que em ritmo insuficiente. Na crítica, porém, Guedes olhou apenas para os dados do emprego formal, divulgados pelo ministério na quinta-feira – e que apontaram a geração de 1,5 milhão de vagas no primeiro semestre.

"A Pnad do IBGE está metodologicamente atrasada, é uma pesquisa feita pelo telefone. É muito superior a metodologia do Caged, que vem diretamente das empresas", disse Guedes. "Ele (o IBGE) ainda está na idade da pedra lascada, baseado em métodos que não são os mais eficientes."

O IBGE não comentou a crítica, refutada por economistas e ex-presidentes do instituto. Na prática, o ministro comparou duas pesquisas diferentes. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) é um registro administrativo de demissões e admissões com carteira assinada – quando as contratações superam as dispensas, há criação de vagas. Já a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), do IBGE, mapeia o emprego formal e informal e também o desemprego, que não é medido no Caged. Segundo a Pnad, o Brasil tem 34,712 milhões de trabalhadores informais, 40% do total.

"A diferença é uma coisa muito óbvia, o Caged mede apenas o trabalho formal", disse Simon Schwartzman, presidente do IBGE no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso.

Para Roberto Olinto, que presidiu o órgão de estatística no governo Michel Temer até o início do governo Jair Bolsonaro, a crítica de Guedes é "inaceitável", "leviana" e não passa de uma "declaração política", como outros "ataques" do governo federal a "instituições técnicas e científicas". Segundo Olinto, o ministro cita o Caged porque os dados são mais positivos. "Voltamos à velha questão de quebrar o termômetro."

Estudos de economistas sugerem que, de um lado, a Pnad, ao passar a ser feita por telefone, pode estar subestimando o emprego formal; de outro, o Caged pode estar superestimando a criação de vagas. Só que isso não muda a percepção sobre as dificuldades do mercado de trabalho.