Correio Braziliense, n. 21597, 04/05/2022. Política, p. 2

De novo, em busca da  trégua institucional

Luana Patriolino
Raphael Felice


Em busca de uma solução para a crise entre os Poderes, o Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), se reuniu, na tarde de ontem, com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux. O parlamentar reforçou o apoio e o respeito do Congresso Nacional à Corte, diante dos sucessivos ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O encontro durou 45 minutos e aconteceu na presidência do STF. Na saída, Pacheco conversou com os jornalistas e reiterou a busca pelo diálogo entre os Poderes. Ele destacou o papel moderador do Legislativo.

“Pode haver acontecimentos pontuais, mas que não se refletem em uma crise. Evidentemente, o Congresso Nacional tem o seu papel de moderação, de busca de consenso”, disse.

Pacheco afirmou que o encontro com Fux se deu pela “necessidade da manutenção do diálogo e da relação entre o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, algo também recomendável em relação ao Executivo”.

Perguntado sobre a lisura do pleito deste ano, o senador demonstrou preocupação. Afirmou que as eleições não podem ser usadas para “arroubos antidemocráticos” em favor do fechamento do STF.

O encontro ocorreu em meio ao mal-estar entre a Corte e o Executivo, intensificada após o perdão concedido pelo presidente Bolsonaro ao deputado  Daniel Silveira (PTB-RJ). A crise se agravou com a participação do chefe do Executivo nas manifestações de 1º de Maio. Com o mesmo repertório das manifestações de 7 de Setembro, os bolsonaristas tinham, entre as pautas, a destituição dos ministros da Corte, o fechamento do STF e a intervenção militar.

Impeachment

Pacheco afastou a possibilidade de ceder à pressão governista e abrir processos de impeachment de ministros do STF. “Não se pode fechar questão hora alguma em relação a isso, mas é preciso ter critérios, fatos, justa causa, tipicidade em relação à lei e até aqui não enxerguei nenhuma concretude que justifique impeachment de ministros do Supremo”, disse.

Sobre a cassação do deputado bolsonarista, o senador afirmou que mantém o posicionamento de que o Congresso deve ser o responsável por decidir sobre a inelegibilidade do político, que deve debater em plenário sobre a aplicação desta e das demais penas. “Não houve crítica ao STF pela cassação. (…) Fiz apenas uma pontuação jurídica, técnica e constitucional que está longe de ser uma crítica à decisão judicial”, ressaltou.

Ao explicar que o Legislativo não poderá sustar o decreto de Bolsonaro em favor do deputado Daniel Silveira, Pacheco afirmou que mudanças poderão ser votadas em relação à concessão de graça, indulto ou anistia a condenados pela Justiça.

“Pode o Congresso Nacional refletir e aprimorar a legislação para que graça, indulto e anistia tenham sua outorga. (…) Isso pode ser uma disciplina útil para o futuro para se evitar que se gere o sentimento de impunidade, como o sentimento de que o Judiciário não tem a palavra final em matéria de justiça penal”, disse.

Lira: “Equilíbrio”

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não participou do encontro no STF. Mas também voltou a defender uma trégua entre os Poderes. Ele afirmou que é preciso “aliviar a tensão” institucional e frisou também que o Legislativo busca a harmonia. “O Legislativo sempre buscou e busca o equilíbrio, a harmonia e a tranquilidade entre os Poderes e a relação democrática do Brasil”, afirmou.

Lira disse que tem conversado “muito de perto” com Fux, Pacheco e Bolsonaro, sobre a tensão institucional. “Nós vamos encontrar, não tenho dúvida, uma saída negociada para aliviar um momento de tensão, de pressão, quase que de um período pré-eleitoral”, disse.

Antes de se encontrar com o presidente do STF, Rodrigo Pacheco se reuniu com lideranças do Senado Federal. Segundo ele, os senadores presentes na reunião ficaram satisfeitos com o diálogo entre as instituições.

Leia em: https://flip.correiobraziliense.com.br/edicao/impressa/3265/04-05-2022.html?all=1