O Estado de S. Paulo, n. 46648, 06/07/2021. Metrópole, p. A9

Ministro quer vacinas na conta dos planos de saúde

Matheus de Souza


O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, voltou a defender a inclusão das vacinas contra covid-19 na cobertura dos planos de saúde. Em coletiva, ontem, após reunião com o conselho da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), ele disse que a medida ainda precisa de aprovação da Agência. Caso não seja autorizada, ela "deixa de existir", afirmou.

Já antevendo críticas, ele ponderou que a discussão do tema já deveria ser iniciada. Para o ministro, essa inclusão se daria de duas formas: a primeira, com o ressarcimento do valor das vacinas aplicadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) e ao governo federal; e a segunda, na aquisição de vacinas pelas operadoras para ofertar aos usuários. "Se as operadoras de plano de saúde ainda não conseguem adquirir essas vacinas, elas podem ser aplicadas no Programa Nacional de Imunização. E aí as operadoras vão ressarcir o SUS", declarou.

O ministro ressaltou que ainda não há possibilidade de o setor privado adquirir os imunizantes, mas essa discussão é para um cenário futuro, quando a pandemia se tornar endemia. Ao comentar a necessidade de se discutir já o tema, reclamou: "Se eu não discutir agora (dirão) 'Ah, o senhor não discutiu, e aí não fez a previsão'. Então, o assunto tem de ser discutido, sim, do ponto de vista técnico". "Quarenta e oito milhões de brasileiros custeiam planos de saúde, e custeiam por um objetivo simples: ter assistência à saúde. Isso abrange desde a atenção primária até a atenção especializada, e políticas de vacinação constam na questão da atenção primária", justificou.

Estranheza. A decisão do ministério foi recebida pelo setor com estranheza. Para a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), vigilância em saúde é tarefa do governo e há alguns obstáculos para se implementar a medida. "Essa ideia não tem nenhum precedente e, do meu ponto de vista, não tem lógica", disse Marcus Pestana, da Abramge. Hoje, nenhuma vacina está no rol de procedimentos obrigatórios estipulados pela ANS. "Desde que o mundo é mundo, vacinação é tarefa de governo. É questão de saúde pública", afirmou.