O Globo, n. 32758, 15/04/2023. Política, p. 7

Soraya ameaça saída e aumenta debandada no União Brasil

Lauriberto Pompeu


Em mais um capítulo da crise do União Brasil, a senadora Soraya Thronicke (União-MS) avalia sair do partido. Candidata à Presidência pela legenda em 2022, a parlamentar vive uma queda de braço pelo comando do diretório estadual do Mato Grosso do Sul.

A aliados, ela já avisou que não fica no União na atual conjuntura. A divergência acontece ao mesmo tempo que cinco deputados da bancada da sigla no Rio e a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, pediram à Justiça Eleitoral para sair do partido.

Ao contrário dos parlamentares e da ministra, que é deputada licenciada, a senadora, como venceu uma eleição majoritária e não proporcional, pode sair da legenda sem precisar de aval da Justiça.

Soraya é a atual presidente do União Brasil no Mato Grosso do Sul e tenta eleger um aliado para sucedê-la. O processo, contudo, é conturbado.

Opositores da senadora dizem que, no momento da preparação para a escolha do comando do diretório, houve exclusão indevida de filiados, como a ex-deputada Rose Modesto — ela anunciou no final de 2022 que sairia do União, mas recuou e ficou no partido.

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta também faz parte do grupo adversário da senadora, embora não esteja entre os excluídos do diretório. Decisão da Justiça retomou a participação dos integrantes antes retirados pela senadora.

A parlamentar tem sido convidada por outras legendas desde a campanha presidencial, quando passou a se tornar mais conhecida. Ela teve uma reunião na última quarta-feira com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, e reclamou do cenário atual do União Brasil.

Apesar disso, a parlamentar disse a aliados que não vai tomar nenhuma decisão no curto prazo e que antes vai esperar a disputa pelo diretório do Mato Grosso do Sul ser definida. Ela descarta se filiar ao PL, de Jair Bolsonaro, ou ao PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas disse estar aberta a outras legendas. Um cenário também avaliado pela senadora é ficar um momento sem partido.

No caso do Rio, o prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho, já saiu da sigla e se filiou ao Republicanos. Como motivos para debandada, os insatisfeitos citam interferência do presidente nacional do União, Luciano Bivar, e do vice-presidente Antonio Rueda.

Soraya e os deputados do Rio estão em lados opostos na guerra da legenda. A senadora é aliada de Bivar desde os tempos de PSL. A parlamentar ficou ao lado do dirigente quando ele entrou em conflito com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Por meio da ação em que pedem desfiliação, os deputados do Rio criticam a senadora e dizem que ela e Bivar “partiram para a recorrente estratégia antidemocrática, levada a cabo com o cancelamentos de filiação e exclusão de cargos partidários, com direito a voto, de seus opositores”.

Em nota divulgada na segunda-feira, Soraya reclamou que usaram indevidamente sua senha no sistema que gerencia o diretório estadual. Fruto da fusão do PSL com o DEM, formalizada no ano passado, a sigla que surgiu como maior potência de direita no país acumula desavenças entre os dois grupos políticos.

Em Pernambuco, por exemplo, Bivar, fundador do PSL, trava uma disputa com o deputado federal Mendonça Filho, que foi ministro da Educação e era um dos principais nomes do DEM. Mendonça se lançou na disputa para presidir o diretório estadual do União, mas perdeu para o indicado por Bivar, Marcos Amaral.

O resultado da eleição interna, contudo, foi anulada pela Justiça após provocação do grupo de Mendonça. Entre as alegações está uma acusação de fraude com a inscrição de diretórios municipais irregulares na disputa.