O Estado de S. Paulo, n. 46650, 08/07/2021. Metrópole, p. A20

Debate: O País deve encurtar o intervalo de vacinação?

Ethel Maciel


O País deve encurtar o intervalo de vacinação?

Sim

É muito importante reduzir, assim como outros países estão fazendo, o intervalo entre a dose 1 e a dose 2, principalmente com a entrada de novas variantes. Estudos comprovam que a vacinação parcial com uma dose da Astrazeneca ou da Pfizer diminui a proteção pela infecção. Por isso, a importância de encurtar o intervalo de 12 para 8 semanas do imunizante da farmacêutica britânica. É fundamental também que mantenhamos o intervalo da Pfizer aprovado pelo fabricante, que é de 21 dias. Nós já sabemos agora que as variantes que temos, incluindo a Delta, não têm uma diminuição de proteção pela doença quando a pessoa está com o esquema vacinal comple- to. A eficácia ainda é muito alta com duas doses, então é necessário que a gente tenha mais pessoas com duas doses, garantindo que continue a velocidade de imunização de, pelo menos, 1 milhão de doses administradas por dia. As duas coisas precisam acontecer: acelerar por fai- xa etária e ir descendo mais rápido a vacinação, além de diminuir o intervalo entre as doses.

Epidemiologista e Membro da Rede Brasileira Mulheres Cientistas

Renato Kfouri

O País deve encurtar o intervalo de vacinação?

Não

O cenário não permite um encurtamento da aplicação de doses, levando em consideração que o País tem uma taxa baixa de pessoas que tomaram a 1.ª dose. Seguir o que o País está fazendo, ou seja, aplicar as doses em um intervalo de quatro a 12 semanas das vacinas Coronavac, Astrazeneca e Pfizer é o mais adequado. Quando falamos de covid-19, estamos falando do hoje, de evidências científicas atuais. A ideia de um intervalo maior é vacinar um número maior de pessoas com a primeira dose, sabendo que a proteção se sustenta até dar a segunda. Em relação a variantes, nós não temos uma circulação predominante da variante Delta aqui. Temos de observar. Temos um ou outro caso. A P.1 (variante do coronavírus originalmente identificada no Amazonas) é a grande protagonista. Talvez a variante Delta possa exigir uma diferença de esquema de vacinação que, por enquanto, não é o nosso caso. Quando falamos de covid-19, estamos falando do hoje, de evidências científicas de hoje. Não seria uma boa estratégia para o Brasil.

Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações