O Estado de S. Paulo, n. 46650, 08/07/2021. Política, p. A14

'Não gastamos um centavo com a vacina'

Gustavo Côrtes
Pedro Caramuru


Com a justificativa de que "uma pitada de religiosidade, de cristianismo, dentro do Supremo (Tribunal Federal), é bem-vinda", o presidente Jair Bolsonaro confirmou ontem que pretende indicar o advogado-geral da União, André Mendonça, para a Corte, no lugar do ministro Marco Aurélio Mello, que vai se aposentar na próxima segunda-feira. A nomeação de Mendonça precisa ser referendada pelo Senado.

Em entrevista à Rádio Guaíba, o presidente disse que Mendonça é o nome ideal para a Corte. Desde o ano passado, Bolsonaro tem prometido nomear alguém "terrivelmente evangélico" para o Supremo, mas, em novembro do ano passado, o presidente indicou Kassio Nunes Marques, que é católico, para a vaga aberta após a aposentadoria do ministro Celso de Mello.

Mendonça é pastor da Igreja Presbiteriana Esperança, localizada em Brasília. "Além de ser evangélico – ele é evangélico, mas não quer dizer que seja uma virtude; é um direito dele acreditar na Bíblia –, Mendonça tem notável saber jurídico. É uma pessoa humilde", disse Bolsonaro na entrevista.

Ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública, Mendonça acumulou desgastes com o Congresso e o Judiciário ao requisitar à Polícia Federal (PF) a abertura de uma série inquéritos contra adversários de Bolsonaro com base na Lei de Segurança Nacional (LSN), considerada por parlamentares um "entulho" da ditadura. As ações de Mendonça, feitas por ordem de Bolsonaro, têm sofrido reveses no Ministério Público e em tribunais onde são julgados.

Nos últimos meses, Mendonça se encontrou com diversos senadores para diminuir a resistência a seu nome na Casa, conforme relatou o Estadão. O indicado de Bolsonaro precisa de ao menos 41 votos no Senado.

Confiante da aprovação da indicação de Mendonça, Bolsonaro propôs, na entrevista de ontem, que, com o ingresso do advogado-geral da União na Corte, as sessões do Supremo deveriam incluir agora ritos religiosos. "É bom que uma vez por semana, nessas sessões que são abertas no STF, (os ministros) começassem com uma oração do André (Mendonça)", disse.

Em seguida, o presidente voltou a atacar Luís Roberto Barroso, com quem tem tido embates por causa do posicionamento do ministro, que é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), contrário à implantação do voto impresso nas próximas eleições, uma das bandeiras de Bolsonaro.

"Porque, quando se olha para o Barroso, dado o que ele defende e as coisas que não encontram amparo nenhum no livro preto que é a nossa Bíblia, esse cara não acredita em Deus. Não quero fazer prejulgamento dele, mas não acredita em nada", afirmou Bolsonaro. Na mesma entrevista, o presidente voltou a colocar em dúvida o resultado das eleições, caso não seja implantado o voto impresso nas eleições do ano que vem (mais informações nesta página).

André Luiz de Almeida Mendonça tem 48 anos, é casado e tem um casal de filhos. Se sua indicação for aprovada no Senado, ele poderá exercer a função de ministro do Supremo por aproximadamente 27 anos, até completar a idade-limite para a aposentadoria compulsória.

Nascido em Santos (SP), foi criado numa família religiosa e viveu em diferentes cidades do Estado, inclusive Miracatu, reduto da família presidencial. O pai era funcionário do Banespa.

Antes de ingressar na AGU, via concurso, foi advogado da Petrobrás Distribuidora entre 1997 e 2000. Em instituições privadas, cursou Direito em Bauru (SP) e Teologia, em Londrina (PR). Fez pós-graduação em Direito Público na Universidade de Brasília (UNB), mestrado e doutorado na Universidade de Salamanca, na Espanha.