O Estado de São Paulo, n. 46663, 21/07/2021. Política p.A11

 

Bolsonaro propõe recondução de Aras na PGR


Presidente diz que vai indicar procurador-geral da República para um novo mandato de dois anos, ignorando lista tríplice da categoria

Gustavo Côrtes

Pepita Ortega

 

O presidente Jair Bolsonaro encaminhou ontem ao Senado a indicação do procurador-geral da República, Augusto Aras, para que seja reconduzido ao cargo para um mandato de mais dois anos.

Pela segunda vez, Bolsonaro ignorou a lista tríplice produzida pela Associação Nacional dos Procuradores da República e indicou Aras, que, até agora, tem atuado como escudo para proteger o governo.

"Encaminhei ao Senado Federal mensagem na qual proponho a recondução ao cargo de procurador-geral da República o sr. Antônio Augusto Aras", escreveu Bolsonaro no Twitter.

Em nota, o chefe do Ministério Público Federal disse estar "honrado com a recondução" e prometeu reafirmar o compromisso de "bem e fielmente cumprir a Constituição e as leis do País". Aras foi indicado para o comando da Procuradoria-geral da República em setembro de 2019. À época, a decisão de Bolsonaro quebrou uma tradição prestigiada por todos os seus antecessores, a de indicar um nome da lista tríplice montada pelos procuradores.

Com a escolha pela recondução de Aras, Bolsonaro rejeitou os nomes mais votados pela classe. A subprocuradora Luiza Frischeisen venceu a eleição com 647 votos, seguida por Mario Bonsaglia (636) e Nicolao Dino (587). Todos faziam oposição a Aras, que protegeu Bolsonaro e os filhos dele ao longo de seu primeiro mandato. Nos bastidores, a avaliação no Ministério Público é a de que o procurador-geral da República trabalhava para ser indicado ao Supremo Tribunal Federal, mas Bolsonaro escolheu para a vaga o advogado-geral da União, André Mendonça, cumprindo a promessa de apontar um nome "terrivelmente evangélico" para ocupar a cadeira de Marco Aurélio Mello, que se aposentou compulsoriamente, no último dia 12, aos 75 anos.

Colegas de Aras dizem agora que ele somente terá chance de ser indicado ao STF se Bolsonaro for reeleito, em 2022. Além de enfrentar críticas pela falta de atuação para investigar o governo, uma das principais polêmicas envolvendo o procurador-geral é a cruzada promovida por ele contra a Lava Jato. Aras pôs fim às forças-tarefa e integrou os procuradores em Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado.

Em setembro, o procurador*geral também pediu ao Supremo para rejeitar ação que questionava o direito do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) a foro no caso das "rachadinhas". Em maio, ele se manifestou contra a abertura de investigação para apurar cheques de R$ 89 mil depositados na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro pelo ex-assessor Fabrício Queiroz, pivô do inquérito das "rachadinhas".