O Estado de S. Paulo, n. 46649, 07/07/2021. Metrópole, p. A15

Parentes de homem infectado pela Delta são monitorados

Igor Soares
Paula Felix


Três parentes do homem de 45 anos infectado pela variante Delta do coronavírus em São Paulo estão em monitoramento pela Secretaria Municipal de Saúde. Ele foi o primeiro caso da cepa confirmado no Estado e teve apenas sintomas leves.

Segundo o órgão, os três familiares – a mulher, o enteado e o filho dele – também apresentaram sintomas da covid19, como febre, dor no braço, dor de cabeça, perda do olfato e do paladar.

A pasta ainda não informou, porém, se é uma infecção pela Delta e amostras serão analisadas pelo Instituto Butantan. O quadro de saúde deles é considerado estável.

De acordo com a secretaria, o paciente infectado, cuja a identidade tem sido mantida sob sigilo, não viajou para o exterior. Apesar disso, a secretaria municipal destaca que não há indícios, por enquanto, de transmissão comunitária.

O infectado buscou o serviço de saúde em 19 de junho, apresentando sintomas leves da covid-19. No dia 21, o resultado deu positivo, mas não foi necessário interná-lo. Ele é hipertenso, condição considerada comorbidade para o novo coronavírus, e já está na faixa etária para se vacinar. Não foi imunizado, no entanto, por ter apresentado sintomas da doença.

Até então, no Estado só havia sido reportado um caso importado de Campos de Goytacazes, no Rio. Um homem havia chegado de viagem da Índia, país onde essa nova cepa foi originalmente identificada, passou pelo aeroporto de São Paulo e seguiu para o interior fluminense. Nesta semana, o Rio também confirmou dois casos na região metropolitana.

Especialistas atrelam a Delta à onda de infecções que abalou a Índia no primeiro semestre. No pior dia da pandemia, o país chegou a concentrar 49% dos infectados e 28% dos óbitos do mundo em 24 horas: foram 3.980 mortes.

Em maio, a variante foi classificada como uma cepa de preocupação pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Até agora, conforme cientistas, as vacinas disponíveis no Brasil têm eficácia contra essa nova variante.

Quatro novas cepas do coronavírus que circulam no mundo são consideradas “variantes de atenção” pelas autoridades sanitárias e podem apresentar um alto grau de transmissibilidade ou de agravamento do quadro clínico do paciente infectado. As variantes Gama (P.1), Alfa (B.1.1.7), Beta (B.1.351) e Delta (B.1.617.2) já foram identificadas em circulação no País pelo Instituto Adolfo Lutz e pelo Centro de Vigilância Epidemiológica. São 489 casos dessas quatro novas cepas do coronavírus no Estado.

Gama é prevalente. A detecção do primeiro caso da variante Delta na capital paulista é um achado importante, mas não pode ainda ser considerado um sinal de que a mutação vai se espalhar pelo Estado.

Com a prevalência da variante Gama, também chamada de P.1 e que teve origem em Manaus, a tendência é de que a Delta encontre dificuldade para se disseminar, segundo Sandra Coccuzzo Sampaio Vessoni, diretora do Centro de Desenvolvimento Científico (CDC) do

Instituto Butantan.

Desde o mês passado, o instituto iniciou um trabalho de monitoramento de variantes no Estado em parceria com laboratórios públicos e privados, por meio de sequenciamento genômico. Até o momento, 8,8 mil amostras foram analisadas.

“Os municípios estão com 70% a 100% de casos da variante P.1. Mesmo achando uma variante importante, o fato de ter uma muito disseminada faz com que não seja fácil alcançar o mesmo hub. Não se encontra um espaço fácil para que a outra variante se estabeleça”, explica a especialista.

O último balanço da Rede de Alertas das Variantes do Sarscov-2, com dados até 26 de junho, apontou que a Gama corresponde a 90,77% das variantes em circulação no Estado. Ao todo, 21 variantes já foram identificadas em circulação.

O sequenciamento das variantes é feito a partir da avaliação de uma amostragem definida por epidemiologistas com base nos casos dos 17 distritos sanitários do Estado. A escolha é aleatória, mas leva em consideração a carga viral.

“Se a gente encontra variante de interesse ou de atenção, uma vez que a gente encontra um indivíduo com positividade importante, os contactantes, pessoas que manifestaram algum sintoma ou mesmo assintomáticas, são monitorados. Aí, passamos a ter a medida de rastrear a região”, diz Sandra.

Segundo ela, 1,5 mil amostras são sequenciadas por semana. No início, 2% a 3% das amostras eram analisadas. Agora, o porcentual subiu para 7%, padrão usado pelo Reino Unido, de acordo com a diretora do CDC.

Ela diz que o rastreamento não só detecta novas variantes, como auxilia nas estratégias para atuar contra a pandemia. “Em uma primeira tomada de decisão, trabalhamos com a Secretaria da Saúde, que é responsável pela tomada de decisão do ponto de vista epidemiológico. Nosso principal objetivo é acompanhar a estratégia vacinal e estamos em alerta em relação a outras variantes que a gente já detectou.”