O Globo, n. 32755, 12/04/2023. Economia, p. 16

Brasil tem 1,2 milhão de motoristas de aplicativo

Mariana Barbosa


Enquanto se discute uma eventual regulamentação para proteger os trabalhadores de aplicativos, a Amobitec, associação que representa os principais aplicativos de mobilidade, foi a campo traçar um perfil e mostrar o que pensam, como trabalham e quanto ganham os motoristas e entregadores plugados nas plataformas.

O levantamento foi realizado pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e tem como base dados administrativos de 12 meses de corridas e entregas, fornecidos de forma anônima por 99, iFood, Uber e Zé Delivery, associados da Amobitec. Completa o estudo uma pesquisa de opinião com 3.025 motoristas e entregadores em todo o país.

Esses trabalhadores formam um contingente de 1,6 milhão de pessoas, sendo 1.274.281 de motoristas e 385.742 de entregadores. Eles trabalham em média 4,2 dias e 3,3 dias por semana, respectivamente — e prezam principalmente a renda obtida, a flexibilidade da jornada e o fato de não terem chefe (autonomia).

Outras ocupações

Independentemente de mobilizações por melhores condições e remunerações, frequentes na categoria, a maioria dos trabalhadores entrevistados (80% dos entregadores e 60% dos motoristas) declarou ao Cebrap que pretende continuar trabalhando com as plataformas.

— Estamos em um momento em que as empresas entendem a necessidade de uma regulação, mas queremos qualificar o debate, pois acreditamos que ele deve dialogar com a realidade desses profissionais — diz o diretor executivo da Amobitec, Andre Porto.

O levantamento mostra que os profissionais possuem níveis de engajamento muito distintos, uma vez que nem todos têm na plataforma a única fonte de renda. Entre os entregadores, 48% têm outros trabalhos, e 66% não estão procurando outro trabalho para substituir a entrega. Entre os que declaram possuir outros trabalhos, 50% têm carteira assinada, muitas vezes na mesma área de serviços de entrega.

Já os motoristas conseguem auferir uma renda maior e se dedicar mais horas: 63% trabalham exclusivamente rodando nas ruas com os aplicativos. Entre os 37% dos motoristas que possuem outra fonte de renda, 40% declaram ter carteira assinada no outro trabalho.

A jornada média de trabalho dos motoristas varia entre 22 e 31 horas semanais, sendo que 31% dos motoristas ganham de três a seis salários mínimos com o trabalho com o aplicativo, e 10% conseguem tirar mais do que seis salários. Os mais dedicados, que cumprem jornadas semanais de 40 horas sem ociosidade, são capazes de obter uma renda de até R$ 4.756, descontados os custos de combustível e manutenção.

Entre os entregadores, 70% ganham entre um e três salários mínimos com os aplicativos. Aqueles que dedicam 40 horas semanais sem ociosidade podem levar para casa uma renda líquida de R$ 3.039.

Um contingente significativo apelou para a plataforma por falta de alternativa de trabalho. Entre os motoristas, 43% estavam desempregados quando começaram a trabalhar nas plataformas. Entre os entregadores, 31% não tinham emprego.

Para estabelecer a jornada média, o Cebrap considerou as horas trabalhadas em mais de um aplicativo, como é praxe no segmento. Para estabelecer o número de trabalhadores, foi eliminada a duplicidade de CPFs. O Cebrap fez a pesquisa de opinião entre agosto e novembro de 2022, com margem de erro de 2,5%. Os dados administrativos coletados se referem ao período de 12 meses até 30 de abril de 2022.