Correio Braziliense, n. 21533, 01/03/2022. Mundo, p. 3

Bolsonaro está mal informado, diz diplomata ucraniano

Tainá Andrade


Anatoliy Tkach, encarregado de negócios da Ucrânia no Brasil, afirmou, ontem, que o presidente Jair Bolsonaro (PL) está “mal informado” sobre a guerra, por defender uma posição de neutralidade em relação à invasão russa. O diplomata sugeriu que Bolsonaro conversasse com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, “para ter outra posição e uma visão mais objetiva” sobre o conflito. 

Em entrevista à rádio Jovem Pan, Bolsonaro disse que não tem nada para falar com o presidente ucraniano. “Alguns querem que eu converse com Zelensky, o presidente da Ucrânia. Eu, no momento, não tenho o que conversar com ele. Eu lamento, se depender de mim não teremos guerra no mundo”, declarou.

No domingo, Bolsonaro defendeu que Brasil deve manter neutralidade sobre a guerra no Leste Europeu, considerando um exagero chamar o conflito entre a Rússia e a Ucrânia de “massacre”. 

O diplomata ucraniano disse que “talvez” falte a seu país “apresentar mais dados sobre as perdas civis”. Anatoliy Tkach informou que, nos cinco primeiros dias de invasão, 352 civis morreram nos ataques, sendo 16 crianças. Segundo ele, há mais de 2 mil feridos. E apenas ontem 120 mil pessoas deixaram a Ucrânia. “Possivelmente, eu vou pedir aos nossos funcionários para divulgar mais vídeos das perdas civis”, comentou aos jornalistas.

Sobre as críticas de que as sanções internacionais estão muito rigorosas, o representante ucraniano defendeu as medidas. “As sanções econômicas são os meios de dissuasão para que a Rússia não continue as agressões, porque, como eu já comentei, as armas nucleares russas estão prontas para atacar. Melhor parar agora com negociação do que entrar em uma guerra maior”, ressaltou.”Nesse momento, não se trata de apoio à Ucrânia, mas de defesa dos valores democráticos, do direito internacional, incluindo os fundamentos como não devastar as fronteiras, o respeito à soberania internacional e à integridade territorial.”

Ajuda

O encarregado de negócios ucraniano disse ainda ter apresentado um pedido oficial de ajuda humanitária ao Brasil. Na lista, segundo Tkach, foi solicitado ao Itamaraty desde comida até itens de primeiros socorros, roupas, principalmente térmica. 

Ainda na entrevista à Jovem Pan, Bolsonaro destacou que o Brasil concederá vistos humanitários para ucranianos que desejem vir ao país. “Conversei agora há pouco com (o chanceler) Carlos França, ele falou que já ia tomar as providências. Nós vamos abrir a possibilidade de ucranianos virem para o Brasil através de um visto humanitário, que é a maneira mais fácil de vir para cá”, assinalou.