O Estado de S. Paulo, n. 46645, 03/07/2021. Política, p. A10

Análise: A importância ímpar de um governador afirmar sua homossexualidade

Paulo Iotti


O governador Eduardo Leite não só revelou sua homossexualidade como afirmou ter orgulho em ser gay. A importância de figuras públicas afirmarem sua identidade LGBTI+ causa estranhamento a pessoas heterossexuais e cisgêneras não ligadas ao ativismo, que perguntam por que isso seria necessário. A razão está na correta compreensão do que se quer dizer por "orgulho" LGBTI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Intersexos, pessoas não heterossexuais e não cisgêneras).

Infelizmente, as sociedades mundo afora ainda promovem valores que querem fazer crer que a pessoa LGBTI+ deveria ter vergonha de assim sê-lo. Então, tem importância ímpar um governador afirmar a sua homossexualidade.

Tudo que o movimento quer é que nossas famílias tenham seus direitos respeitados e que a população LGBTI+ não sofra violências (físicas ou simbólica), discriminações, ofensas e discursos de ódio.

Obviamente, Eduardo Leite assumir-se gay não significa que todos os gays irão votar nele. Temos pessoas LGBTI+ de todas as ideologias políticas e partidárias. Aliás, o governador apoiou a candidatura de Bolsonaro no segundo turno de 2018, a despeito de seus notórios discursos homofóbicos, sua apologia à ditadura militar etc. Logo, Leite teve postura contraditória com o "orgulho" que agora diz sentir.

Não se deve esperar uma união da comunidade gay e ainda mais da LGBTI+ em torno de seu nome. A eventual possibilidade de algo parecido depende de propostas e ações concretas em favor dos direitos da diversidade sexual e de gênero e dos direitos humanos como um todo.

Ainda assim, vale reconhecer a importância da atitude de Eduardo Leite.

Homem gay, Doutor em Direito Constitucional pela Instituição Toledo. É autor das ações que geraram o reconhecimento da homotransfobia como crime de racismo