O Globo, n. 32751, 08/04/2023. Opinião, p. 2

Abril Vermelho do MST põe em risco a articulação política do governo



Depois de longo tempo de inércia e de uma tentativa de melhorar sua imagem, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) retomou a invasão de propriedades privadas. Em março, já invadira quatro fazendas de plantação de eucaliptos, três delas da Suzano Papel e Celulose no Sul da Bahia. Na época, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT), tentou minimizar: “É um caso isolado”. Pelo visto não era. Tanto que o MST acaba de lançar o Abril Vermelho, um mês de especial mobilização, que começa com a invasão de 800 hectares de três engenhos no município de Timbaúba, em Pernambuco. Uma nota do movimento justifica a tomada das propriedades sob o argumento de que não cumprem sua “função social”, termo vago usado como espantalho para desviar a atenção de qualquer agressão ao direito à propriedade privada.

Não é coincidência que o MST retome as invasões com a volta ao Planalto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Como no passado, as pressões procuram levar o governo do PT a ceder cargos e poder no Instituto Nacional de Desenvolvimento e Reforma Agrária (Incra) ao MST. No fim de fevereiro, devido aos choques entre correntes do PT, foi anunciada a manutenção no Incra do agrônomo César Aldrighi, servidor de carreira. O nome preferido do MST era Rosilene Rodrigues. Ela não ficou na presidência, mas com a diretoria de Desenvolvimento. Depois de dizer que não havia objeção aos nomeados para a cúpula do Incra, a integrante da direção nacional do MST Ceres Hadich deixou claro que é necessário substituir os superintendentes e responsáveis pelas delegacias regionais do órgão. Deixou no Incra, e certamente no Planalto, uma lista de nomes do agrado do movimento. Foi um repeteco do que aconteceu nos dois primeiros governos Lula. Com DNA essencialmente anticapitalista, o MST não precisa de motivos para invasões. Como minguaram os outrora populares “latifúndios improdutivos”, resultado do avanço e modernização da agropecuária nas últimas décadas, o movimento voltou-se agora contra o que chama de “monocultura” (caso da soja e do eucalipto). Alega que ela ocupa espaços da produção de alimentos “para o povo”. Trata-se de argumento sem pé nem cabeça. As lideranças do MST fingem não saber que as extensas plantações de grãos são fonte importante de divisas para o país e servem de ração animal. As gôndolas dos supermercados e as feiras livres desmentem qualquer fantasia do MST. Os primeiros desdobramentos das invasões não chegam a Brasília, ficam sob a responsabilidade da Justiça e polícia locais. Os efeitos políticos, porém, atingem Lula e seu governo, dependentes de votos da bancada ruralista no Congresso para aprovar o novo arcabouço fiscal, a reforma tributária e outras leis. A oposição já tenta criar na Câmara uma CPI sobre as invasões. Nem será necessário. O MST já trabalha contra Lula, ao pôr em risco a aprovação dos dois projetos que definirão o futuro de seu governo.
Como no passado, as pressões procuram levar o governo do PT a ceder cargos e poder no Instituto Nacional de Desenvolvimento e Reforma Agrária (Incra) ao MST. No fim de fevereiro, devido aos choques entre correntes do PT, foi anunciada a manutenção no Incra do agrônomo César Aldrighi, servidor de carreira. O nome preferido do MST era Rosilene Rodrigues. Ela não ficou na presidência, mas com a diretoria de Desenvolvimento. Depois de dizer que não havia objeção aos nomeados para a cúpula do Incra, a integrante da direção nacional do MST Ceres Hadich deixou claro que é necessário substituir os superintendentes e responsáveis pelas delegacias regionais do órgão. Deixou no Incra, e certamente no Planalto, uma lista de nomes do agrado do movimento. Foi um repeteco do que aconteceu nos dois primeiros governos Lula. Com DNA essencialmente anticapitalista, o MST não precisa de motivos para invasões. Como minguaram os outrora populares “latifúndios improdutivos”, resultado do avanço e modernização da agropecuária nas últimas décadas, o movimento voltou-se agora contra o que chama de “monocultura” (caso da soja e do eucalipto). Alega que ela ocupa espaços da produção de alimentos “para o povo”. Trata-se de argumento sem pé nem cabeça. As lideranças do MST fingem não saber que as extensas plantações de grãos são fonte importante de divisas para o país e servem de ração animal. As gôndolas dos supermercados e as feiras livres desmentem qualquer fantasia do MST. Os primeiros desdobramentos das invasões não chegam a Brasília, ficam sob a responsabilidade da Justiça e polícia locais. Os efeitos políticos, porém, atingem Lula e seu governo, dependentes de votos da bancada ruralista no Congresso para aprovar o novo arcabouço fiscal, a reforma tributária e outras leis. A oposição já tenta criar na Câmara uma CPI sobre invasões. O MST já trabalha contra Lula, ao pôr em risco a aprovação dos dois projetos que definirão o futuro do seu governo.