O Estado de S. Paulo, n. 46644, 02/07/2021. Política, p. A6

Bolsonaro vê STF contra voto impresso

Matheus de Souza 


O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que "três ministros" do Supremo Tribunal Federal (STF) estariam em uma "articulação" para barrar o voto impresso na eleição de 2022. Ele não disse quem são os magistrados, mas afirmou que se não tiver "eleições limpas", "teremos problemas no ano que vem". A declaração foi dada pouco antes de o presidente participar de uma missa na Paróquia Nossa Senhora da Saúde, em Brasília – fora de sua agenda oficial.

"Temos uma articulação de três ministros do Supremo para não ter o voto auditável. Se não tiver, eles vão ter que apresentar uma maneira de ter eleições limpas. Se não tiver, vamos ter problemas no ano que vem", disse Bolsonaro a apoiadores em frente ao Palácio do Alvorada, pouco antes de assistir à celebração, ao lado da deputada Bia Kicis (PSL-DF), autora da PEC do Voto Impresso.

"Dinheiro tem, já está arranjado dinheiro para as eleições, para comprar impressoras", disse o presidente em vídeo postado na sua conta do Twitter. "Como está aí, a fraude está escancarada", afirmou o presidente.

Apesar de repetir com frequência o discurso de irregularidades nas eleições no País, o presidente nunca apresentou provas das fraudes que ele diz existirem.

No dia 24 de junho, o ministro do STF Gilmar Mendes deu 10 dias para o presidente prestar informações sobre as declarações recorrentes de fraudes nas eleições. A decisão foi tomada após ação do partido Rede Sustentabilidade. Poucos dias antes, o ministro Luís Felipe Salomão, corregedor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), também pediu explicações a Bolsonaro sobre o assunto. Ele determinou a abertura de um procedimento administrativo para apurar a existência ou não de elementos concretos que possam ter comprometido os pleitos de 2018 e 2020.

O Estadão/Broadcast apurou que os ministros do Supremo Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes atuaram para convencer líderes de partidos a rejeitar a ideia do voto impresso. Moraes assumirá a presidência do TSE no período das eleições presidenciais do ano que vem e Barroso é o atual chefe da Corte eleitoral.

No último fim de semana, presidentes de 11 legendas se reuniram e fecharam posicionamento contra a impressão do voto nas eleições de 2022. Os caciques das legendas, incluindo os da base do presidente Bolsonaro no Congresso, decidiram que irão derrubar a proposta discutida na Câmara e patrocinada pelo chefe do Planalto.

A reviravolta ocorre no momento em que Bolsonaro passa por forte desgaste na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que apura irregularidades na compra de vacinas, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu potencial principal adversário, lidera pesquisas de intenção de voto para as eleições do próximo ano.

Tramitação. O Estadão revelou, no início do mês passado, que a PEC do Voto Impresso tinha votos suficientes para avançar na comissão especial da Câmara. A proposta tem parecer favorável do relator, o deputado bolsonarista Filipe Barros (PSL-PR), mas ainda não foi colocado em votação. Com a articulação do fim de semana, líderes partidários prometem se movimentar pela rejeição da PEC – há a possibilidade de a matéria ser engavetada. Os 11 partidos representam 326 deputados das 513 cadeiras da Câmara. / Colaborou Camila Turtelli

Ameaça

"Dinheiro tem, já está arranjado dinheiro para as eleições, para comprar impressoras. Como está aí, a fraude está escancarada

Jair Bolsonaro

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