O Globo, n. 32748, 05/04/2023. Política, p. 6

Após cobrança de Lula, governo muda comunicação

Jeniffer Gularte


A uma semana de o governo completar cem dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou a reunião ministerial de segunda-feira para cobrar a divulgação de ações. Antes de falar ao grupo de 18 integrantes do primeiro escalão, Lula já vinha expressando, em conversas com auxiliares no Palácio do Planalto, preocupação com a falta de publicidade junto à população do trabalho feito pelas 37 pastas nos primeiros meses de gestão.

A pedido de Lula, a Secretaria Comunicação Social da Presidência (Secom) quer usar a marca dos cem dias para tentar ajustar a comunicação na Esplanada e reforçar a imagem de que o governo entrega. Em uma reunião hoje com os assessores de comunicação de todos os ministérios, as equipes serão cobradas a terem um plano de comunicação para as ações futuras das pastas.

Também será alinhada a narrativa do governo para a data, que terá uma campanha publicitária com o mote “O Brasil Voltou”. As peças vão apresentar, segundo a visão do governo, “tudo que foi devolvido ao Brasil” nos primeiros três meses de gestão. A ideia é destacar programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida e Bolsa Família. Além de um vídeo institucional do governo, cada ministério terá peças específicas para as suas redes sociais. Os vídeos, ainda em fase de produção, começarão a ser veiculadas no sábado.

Paralelo a isso, a Secom passará a incentivar que os ministros tenham uma comunicação mais intensa, regionalizada e direcionada a questões específicas das suas pastas. À frente da Secom, o ministro Paulo Pimenta quer que os colegas de Esplanada organizem uma série de entrevistas a rádios locais durante viagens aos estados.

— São muitos ministérios novos, que não tinham estrutura de comunicação montada. Foi um período de comunicação inicial, estruturação de equipes. À Secom cabe estimular, alinhar e orientar (as assessorias dos ministérios). A partir dos cem dias, queremos que as coisas estejam azeitadas —justificou ao GLOBO.

Para marcar a data, todos os ministros serão orientados a fazer publicações nas mídias digitais. O objetivo do governo é evitar situações que, internamente, foram avaliadas como equívocos de comunicação. Uma delas ocorreu em 9 de janeiro, quando o perfil do presidente publicou uma gravação que mostrava Lula caminhando com os governadores do Palácio do Planalto até a sede do Supremo Tribunal Federal (STF), ambos recém destruídos pelos atos terroristas do dia anterior. Foi o vídeo de maior repercussão do governo. A publicação, no entanto, não foi compartilhada por ministérios e integrantes do primeiro escalão.

A partir daí, a Secom passou a ter um acompanhamento maior, com orientação expressa aos ministros para terem atenção à comunicação do Planalto. Monitoramentos diários de redes sociais feitos pela Secom acompanham a repercussão de publicações feitas por ministros e personalidades do governo.

Também foi considerado falha de comunicação o episódio em que o ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, divulgou um programa de passagens áreas a R$ 200 para aposentados, servidores e estudantes sem combinar com a Casa Civil. Em derrapada semelhante, o ministro da Previdência, Carlos Lupi, divulgou que os juros do crédito consignado para beneficiários do INSS seria reduzido para 1,7%. Depois, acabou desautorizado pelo Planalto.

Aceno aos militares

Em mais um aceno aos militares, Lula recebeu ontem integrantes das Forças Armadas promovidos a generais no Planalto. Essa é a terceira agenda do petista com membros da caserna para amenizar a crise entre o governo e militares após a invasão das sedes dos três Poderes, em 8 de janeiro.

Lula participou da cerimônia de apresentação dos oficiais generais, promovidos em 31 de março. As promoções ocorrem três vezes ao ano e esta é a primeira do novo mandato do petista. Ao todo, 56 oficiais do Exército, Marinha e Aeronáutica foram promovidos.