O Estado de S. Paulo, n. 46643, 01/07/2021. Economia, p. B4

Sem porta aberta para gasto populista

Guilherme Tinoco


Nos últimos três meses, as projeções de dívida para 2021 foram revisadas para baixo, saindo de algo próximo a 90% do PIB para cerca de 85% (ou 82% nos casos mais otimistas). A confirmar, veremos uma redução expressiva em relação a 2020 (88,8%).

A que se deve essa melhora? No primário, uma arrecadação fortalecida melhorou em R$ 100 bilhões a projeção oficial. Em relação aos ativos, incorporou-se a devolução de R$ 100 bilhões do BNDES. Sobre o carrego, apesar de uma Selic maior, os impactos são bem menores.

Vem do denominador da relação, contudo, o maior efeito. Estimativas para o PIB nominal decolaram por conta do PIB real, que pode crescer 5%, e da inflação, que deve ser a maior desde 2003.

Nota-se vários fatores: sorte (commodities), razões positivas (crescimento real do PIB), razões negativas (inflação), monetização de ativos (BNDES) e política econômica (teto de gastos).

Como resultado, tem-se uma bem-vinda melhora, mas com caráter mais pontual do que estrutural. Perdura ainda a tarefa de transformar déficits em superávits primários. Também há problemas de curto prazo, como a pandemia, a crise hídrica e o elevado desemprego. É fundamental que a melhora não abra a porta para o gasto populista, especialmente considerando o ano eleitoral que se aproxima. Para ficar de olho.

Mestre em Economia pela USP e Especialista em Contas Públicas