O Estado de S. Paulo, n. 46643, 01/07/2021. Economia, p. B3

País registra 14,7 milhões sem emprego em abril

Daniela Amorim 
Thaís Barcellos
Cícero Cotrim


A taxa de desemprego no País se manteve no patamar recorde de 14,7% no trimestre encerrado em abril, mesmo resultado visto em março, segundo pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com os sinais de recuperação de parte da economia, houve um aumento no número de pessoas em busca de emprego, mas o mercado de trabalho ainda não conseguiu gerar vagas para absorver a mão de obra disponível, explicou Adriana Beringuy, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do órgão.

O número de desempregados no período foi calculado em 14,761 milhões de trabalhadores, quase meio milhão a mais em apenas um trimestre. Em relação a abril de 2020, o contingente de desempregados aumentou 15,2%, com 1,950 milhão de pessoas a mais em busca de uma nova colocação.

“Dificilmente, você vai resolver nos quatro primeiros meses de 2021 tudo o que ocorreu em 2020”, afirmou Adriana, em referência ao impacto da pandemia de covid na economia, que obrigou autoridades a adotar medidas de isolamento social.

Em relatório distribuído a clientes, o economista Alberto Ramos, do banco Goldman Sachs, afirmou que a taxa de desemprego “provavelmente vai continuar em dois dígitos por um período longo de tempo”, dado o descompasso entre “o número considerável de trabalhadores desencorajados” que vão voltar a procurar emprego e o ritmo de abertura de novas vagas.

Pelos dados do IBGE, a população ocupada somou 85,940 milhões de pessoas no trimestre encerrado em abril, 85 mil trabalhadores a menos em um trimestre. Em relação a um ano antes, 3,302 milhões de pessoas perderam seus empregos.

Há menos 7,7 milhões de pessoas trabalhando em relação a fevereiro de 2020, no pré-pandemia, o que representa uma perda de 8,3% no estoque de ocupados, apontou o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores.

“É um número bem preocupante, que mostra de alguma forma a fragilidade do mercado de trabalho”, disse ele. “Mesmo com a volta do auxílio emergencial em abril, o montante pago nessa nova rodada é menor do que em 2020, o que não segura as pessoas em casa. Mesmo com a pandemia forte em abril, as pessoas precisam estar na rua para recompor renda”, acrescentou o economista, que espera também um crescimento no número de pessoas trabalhando de forma precária nos próximos meses.

Em abril, a taxa de desemprego só não subiu mais porque a população inativa – que não trabalha nem procura emprego – bateu em 76,383 milhões, seis mil a mais que no trimestre anterior. Em relação ao mesmo período de 2020, há 5,457 milhões de inativos a mais. 

Perspectiva. Considerando todos os brasileiros subutilizados, faltou trabalho para 33,252 milhões de pessoas no País no trimestre até abril passado. A conta inclui quem busca emprego e quem está trabalhando menos horas do que gostaria e poderia, além das pessoas que não estão procurando vaga, mas estão disponíveis para trabalhar – como os chamados desalentados.

Segundo Adriana, do IBGE, o maior recrutamento de mão de obra depende de um conjunto de fatores, já que o mercado de trabalho responde a estímulos econômicos, ao consumo das famílias e concessões de crédito. As exceções são os segmentos menos afetados pela crise provocada pela pandemia, que já mostram melhor desempenho na absorção de mão de obra, como a agricultura e os serviços de tecnologia da informação.

“A agricultura não é afetada por restrições, tem condições de operar num nível melhor de normalidade”, disse a analista.

No segmento de informação, comunicação e atividades financeiras, a ocupação já supera o patamar pré-pandemia, puxado pela área de tecnologia da informação. “A demanda por conectividade tem feito com que esse grupamento tenha se beneficiado tanto na demanda pelo volume de serviços quanto por profissionais”, justificou Adriana.

Quanto ao tipo de vínculo de trabalho, o trabalho por conta própria se destaca na absorção de trabalhadores ante o patamar de um ano antes. A modalidade, que tem forte predomínio de informalidade, é impulsionada por pessoas que perderam o emprego na pandemia e não conseguiram se recolocar na mesma atividade, mas também por integrantes da família que não trabalhavam, mas que passam a atuar por conta própria para ajudar a complementar a renda domiciliar reduzida pela pandemia.

‘Preocupante’

“É um número bem preocupante (a evolução do desemprego desde 2020), que mostra de alguma forma a fragilidade do mercado de trabalho.”

Bruno Imaizumi

Economista da LCA