O Globo, n. 32747, 04/04/2023. Economia, p. 13

Preço do petróleo salta 6% após anúncio da Opep

Vitor da Costa


Os contratos futuros do petróleo subiram mais de 6% ontem, depois de a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (Opep+) anunciar, no domingo, um corte surpresa de mais de 1 milhão de barris por dia. Analistas agora estimam que o barril do petróleo pode atingir US$ 100 até 2024, e investidores ponderam os efeitos de alta na inflação e nos juros globais.

O contrato para junho do petróleo tipo Brent subiu 6,31%, a US$ 84,93, o barril. Já o preço do contrato para maio do WTI avançou 6,28%, a US$ 80,42, o barril.

A decisão da Opep+ entra em vigor no mês que vem, estendendo-se até o fim do ano. É o maior corte desde outubro de 2022, quando o cartel reduziu sua produção em dois milhões de barris por dia.

Para a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, o corte “não é positivo para o crescimento global e aumenta a incerteza em um momento de inflação alta”.

Após o anúncio, o banco de investimentos Goldman Sachs elevou sua projeção para o preço do barril do Brent a US$ 95, em dezembro de 2023, e a US$ 100, em 2024.

Já o Bank of America (BofA) manteve sua previsão para o barril do Brent acima de US$ 90 no segundo semestre deste ano. Segundo o diretor de Pesquisa de Commodities e Derivativos do BofA, Francisco Blanch, a Opep não mais tem receio de um salto na produção de gás de xisto — cujo custo é muito elevado —nos EUA:

— Portanto, cortar produção para elevar os preços do petróleo não traz os mesmos riscos de cinco anos atrás.

O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, observa que outro fator de influência nos preços do petróleo é o ritmo da retomada da economia chinesa:

— Os números de crescimento de China têm vindo abaixo do esperado, o que tira um pouco de pressão, apesar do corte da Opep+.

Nos mercados acionários, os papéis de energia puxaram os índices Dow Jones e S&P, que subiram 0,98% e 0,37%, respectivamente.

Já no Brasil, o Ibovespa caiu 0,37%, aos 101.506 pontos, enquanto o dólar subiu 0,03%, a R$ 5,0708. A forte alta das ações da Petrobras e de outras empresas do setor de óleo e gás não conseguiu fazer frente à queda de bancos e de empresas ligadas à economia local.

Petrobras ON (ordinárias, com direito a voto) subiu 4,76%, e Petrobras PN (preferenciais, sem voto) avançou 4,43%. Prio ON subiu 3,88%, e 3RPetroleum, 1,56%.

— O mercado entende que o maior custo de energia vai gerar maior impacto inflacionário. Se a alta do petróleo se transformar em algo estrutural, vai fazer com que os bancos centrais revejam sua estratégia —disse o estrategista de ações da Genial Investimentos, Filipe Villegas.

Petrobras reduz QAV

Analistas também mantiveram no radar a proposta do novo arcabouço fiscal. Segundo Villegas, o mercado avalia que, para alcançar as metas estabelecidas, o governo terá de elevar impostos —e o setor bancário pode ser afetado.

Itaú PN e Bradesco PN recuaram 2,81% e 2,51%, respectivamente. Grupo Soma caiu 5,80% e Lojas Renner, 7%. Hapvida cedeu 6,49%.

Ainda ontem, a Petrobras anunciou redução nos preços do querosene de aviação (QAV) para abril de, em média, 5,7%, em relação a março.