O Globo, n. 32747, 04/04/2023. Opinião, p. 2
Indefinição da Petrobras sobre preços aumenta o risco de desabastecimento
Na campanha eleitoral e depois de empossado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o compromisso de “abrasileirar os preços dos combustíveis”. Não explicou bem o que isso significa. Aparentemente, além do previsível jogo de cena para a plateia, ele pretende que o novo presidente da Petrobras — o ex-senador Jean Paul Prates — deixe de seguir a cotação internacional do petróleo na formação dos preços da gasolina e do diesel, como dita o princípio do Preço de Paridade de Importação (PPI), seguido pela estatal desde 2016.
Prates chama o PPI de “dogma” e costuma tentar se desvencilhar de perguntas diretas sobre o assunto com respostas enigmáticas. “Estamos flutuando de acordo com a referência internacional e com o mercado brasileiro”, afirmou certa vez sobre a política de preços sem dar mais explicações. Noutra oportunidade foi mais claro ao afirmar que o preço internacional é o melhor para a empresa, mas que “isso não quer dizer que se tenha de andar em cima da linha do preço do importador” — o Brasil importa quase 30% do diesel e 15% da gasolina que consome. “Para cliente que paga bem, você dá desconto. É uma política de empresa”, repete Prates como se justificasse a redução de preços na bomba.
Entre outros motivos, o PPI vem sendo deixado de lado porque foi criado para garantir a quem comprasse refinarias da Petrobras que o preço interno dos derivados de petróleo estaria em linha com os praticados no exterior. Era uma forma de dar segurança aos investidores. A estatal precisava vender ativos para abater dívidas de US$ 100 bilhões. Das grandes refinarias, apenas uma foi vendida: a Landulpho Alves, na Bahia, ao Mubadala Capital, fundo soberano de Abu Dhabi. No poder, Lula congelou as privatizações, necessárias para dinamizar o mercado e aumentar a competição que reduziria o preço nas bombas.