O Estado de S. Paulo, n. 46642, 30/06/2021. Economia, p. B12

Iniciativas criativas tiram do lixo uma indústria milionária



A prática da logística reversa virou modelo de negócio para algumas empresas. O Brasil perde R$ 14 milhões por ano com falta de reciclagem de lixo. São 12 milhões de toneladas de resíduos sólidos desperdiçados como 6 milhões de toneladas de plásticos e 4,7 milhões de papel e papelão, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).

E, se tem muito lixo, isso vira dinheiro na mão de empresas. É o caso da Yesfurbe, plataforma de compra e venda de smartphones refabricados. Fundada em 2018, a startup incentiva o consumo sustentável por meio do recondicionamento de aparelhos seminovos, além de oferecer produtos de alta tecnologia com preços mais acessíveis.

A empresa é uma alternativa para quem não sabe o que fazer com um aparelho antigo ou enfrenta dificuldade na revenda, trocando-o por créditos para adquirir um modelo refabricado ou novo. Esses processos podem ser realizados pelo e-commerce da marca ou em marketplaces e varejistas parceiros.

Danilo Martins, CEO da Yesfurbe, define o modelo como "recommerce". "Compramos e vendemos celulares usados do mercado e fazemos toda uma logística reversa para trazer esses aparelhos que captamos dos varejistas", ele conta.

"Temos uma plataforma sistêmica integrada aos nossos principais parceiros de logística. No momento em que é feita a compra de um aparelho novo no varejo – ou seja, o cliente vai à loja, compra um novo e dá o antigo como pagamento –, a gente compra e faz a coleta (para consertar e vender novamente)."

A marca de calçados veganos Ahimsa busca fechar o ciclo de vida de seus produtos criando formas de o cliente devolver os sapatos que não usa mais. Com a iniciativa (Re)cycle, reaproveita materiais.

"Basicamente, o cliente nos devolve um produto usado, nós reciclamos ou doamos, e ele recebe um crédito para uma nova compra", resume Gabriel Silva, fundador e CEO. "Assim tiramos um produto do lixo e incentivamos uma nova compra. Economia circular mesmo."

Para todos. Fazer a logística reversa no ramo de estética, beleza, perfumaria e cosméticos é a premissa da Reciclo Beleza Sustentável, dona de um modelo que atende a negócios pequenos, médios ou grandes.

"Damos uma destinação ambientalmente adequada às embalagens de todas as marcas por meio dos nossos pontos credenciados e máquinas de coleta, ajudando os clientes a conquistarem mais clientes com um programa de pontos e fidelidade sustentável", diz o sócio Fábio Roberto da Silva. "Eles passam a ter nosso selo Reciclo Beleza, nosso certificado ambiental e outros benefícios, que ajudam a tornar os negócios mais ágeis, rentáveis e atrativos."

Está para sair do papel no segundo semestre um braço de tecnologias verdes da empresa para cuidar dos resíduos mais difíceis de reciclar, como esmaltes, batons e brilhos labiais. Eles serão levados para a Loop Green, que vai pleitear vaga na Fapesp para desenvolver soluções que os transformem, por exemplo, para uso na mobilidade urbana, como em recapeamento de ciclovias.

Consciente de que o descarte de cartuchos pode ser um problema ambiental grave, a Reis Office, empresa de outsourcing de impressão, começou uma campanha de logística reversa já em 2008. "Para implantar os procedimentos, precisamos ser firmes, pois é uma mudança de cultura e isso se dá com a comunicação bem feita", diz o fundador, José Martinho Reis.

No início da campanha, eram recolhidos cerca de 5 mil cartuchos por ano. Agora são 25 mil. Em parceria com as fabricantes, a empresa faz a coleta mensalmente e fica responsável pela separação e pelo armazenamento até as empresas credenciadas levarem para o descarte final. / B.Z.

Montanha rejeitada

12 milhões

de toneladas de resíduos sólidos, por ano, são desperdiçadas, entre elas

6 milhões

de toneladas de plásticos e 4,7 milhões de papel e papelão, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe)