O Estado de S. Paulo, n. 46641, 29/06/2021. Internacional, p. A10

Avanço da variante Delta leva a novas restrições em todo o mundo



A preocupação com a rápida disseminação da variante Delta vem forçando um número crescente de países a restabelecer medidas restritivas para impedir que uma nova onda de covid atrapalhe os esforços globais para retomar a normalidade. Novas restrições de viagens e atividades cotidianas foram anunciadas em países como Austrália, África do Sul e Alemanha.

Especialistas alertam que a variante Delta – inicialmente identificada na Índia – está a caminho de se tornar a versão mais dominante do mundo. Além da Índia, países como Portugal, Reino Unido e Rússia enfrentam um novo avanço da pandemia, impulsionado pela cepa indiana que, segundo dados da semana passada da Organização Mundial da Saúde (OMS), já foi detectada em pelo menos 92 países.

Pelo avanço da nova cepa, a Austrália colocou em lockdown várias regiões. Ontem, Sydney e Darwin, duas das principais cidades australianas, amanheceram fechadas. Em Perth foi restabelecido o uso obrigatório de máscara e a população foi alertada sobre a possibilidade de um novo lockdown. Brisbane e Camberra também estão entre as cidades onde restrições foram adotadas novamente.

A maioria dos novos casos na Austrália está relacionada a um motorista de limusine de Sydney que testou positivo em 16 de junho para a variante Delta. Ele não foi vacinado e, segundo relatos, não usava máscara. A suspeita é que ele tenha sido infectado enquanto transportava a tripulação de um voo estrangeiro do aeroporto. O Estado de Nova Gales do Sul, onde fica a cidade, relatou ontem 18 novos casos em 24 horas.

Na Alemanha, o Instituto Robert Koch, responsável pelos indicadores de covid-19, incluiu Portugal e Rússia entre os países da "zona com variante do vírus", grupo sujeito a normas mais rígidas de controle, do qual também faz parte o Reino Unido. Agora, os alemães estariam tentando banir viajantes britânicos da União Europeia, independentemente de estarem ou não vacinados, segundo o jornal The Times. O plano precisa ser discutido no comitê integrado de resposta à crise da UE, mas enfrentará resistência de países que costumam receber grande número de turistas britânicos no verão.

Em Portugal, um dos países mais dependentes do turismo de verão, a variante Delta já é responsável por 51% dos novos casos. Um horário limite de funcionamento foi imposto a restaurantes nas regiões de Lisboa e do Algarve, onde se concentram, respectivamente, a maioria dos novos casos (71%) e o número de reprodução viral mais elevado. O salto nas infecções ocorreu após a reabertura para visitantes da UE e do Reino Unido, em maio.

A Rússia também impôs novas restrições em razão do avanço da cepa indiana, que já é responsável por 90% dos novos casos de covid-19 em Moscou, segundo o prefeito da cidade, Sergei Sobyanin. A capital russa registrou um recorde de 114 mortes no domingo, com o total de casos confirmados de 8,5 mil apenas neste mês.

A partir de ontem, certificados de vacinação com códigos QR passaram a ser exigidos de 60% dos trabalhadores de Moscou que interagem com o público, incluindo professores, motoristas de táxi e vendedores. Restaurantes e bares também passam a ser obrigados a cobrar os certificados – ou testes PCR negativos de até três dias – de seus clientes. As autoridades alertam que os hospitais negarão atendimento médico de rotina aos não vacinados.

Na África do Sul, também bastante afetada pela cepa indiana, as autoridades impuseram uma ampliação do toque de recolher e proibições de reuniões, refeições em locais fechados e algumas de viagens domésticas, pelo período de 14 dias.

As medidas restritivas relacionadas a nova variante também afetaram o Brasil. Bangladesh e Taiwan incluíram o País em suas listas de "países de alto risco". Oficialmente, só 11 casos da variante foram confirmados em território brasileiro até o momento./ WP, Reuters e AP

Incidência

90%

dos novos casos de covid em Moscou são causados pela variante Delta