O Globo, n. 32777, 04/05/2023. Política, p. 10

Em gesto a militares, Lula indica general ao comando do GSI

Sérgio Roxo
Gabriel Sabóia
Geralda Doca
Paula Ferreira


O general da reserva Marcos Antonio Amaro dos Santos será o novo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). O militar, que toma posse hoje, foi convidado para o posto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante uma reunião ontem no Palácio do Planalto, da qual o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, também participou.

A nomeação do general Amaro, como é conhecido, encerra um movimento dentro do governo que defendia o afastamento de militares do comando do GSI. A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, era uma das defensoras de que a chefia da pasta ficasse com um civil. Já a ala que trabalhava para o ministério continuar em seu formato tradicional —desde que foi criado, em 1983, o GSI é chefiado por militares — argumentava que a mudança provocaria um grande desgaste com a caserna, num momento em que o presidente trabalha para pacificar as relações.

Embora a escolha do general Amaro não seja garantia de que os ânimos sejam totalmente apaziguados, fontes ouvidas pelo GLOBO disseram que a indicação do novo comandante do GSI agradou a cúpula do Exército. Um oficial de alta patente afirmou que a experiência de Amaro é vista com bons olhos na caserna. E um amigo do oficial contou que o novo ministro é afeito ao diálogo, mas foge de holofotes, preferindo atuar nos bastidores.

Em conversas com colegas, o general Amaro defende que o GSI seja responsável pela segurança do presidente, que hoje está sob comando da Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata do Presidente da República — um delegado da Polícia Federal responde pelo cargo. A proteção de Lula saiu da alçada do GSI por conta das suspeitas que pairam sobre os militares devido à bolsonarização do órgão. Para concretizar seu desejo, Amaro terá de reconquistar a confiança do chefe do Executivo e reverter o esvaziamento do GSI, que já perdera a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para a Casa Civil.

De Dilma a Bolsonaro

O ex-titular da pasta, o general Gonçalves Dias, deixou o cargo no dia 19 depois que a CNN divulgou imagens suas caminhando entre invasores do Palácio do Planalto nos ataques golpistas de 8 de janeiro. Desde então, o comando do ministério vem sendo exercido de forma interina pelo jornalista Ricardo Cappelli, que agora voltará para a secretaria executiva do Ministério da Justiça, seu posto de origem.

O general Amaro foi uma espécie de sombra de Dilma Rousseff. Durante os cinco anos à frente da segurança da então presidente, Amaro era visto sempre ao lado da petista durante seus passeios de bicicleta por Brasília, viagens e agendas. Nesse período, o general ocupou os cargos de secretário de Segurança da Presidência da República e, depois, chefe da Casa Militar, cargo no qual exercia as atribuições que hoje estão com o GSI. Ele ficou no posto até o impeachment, em maio de 2016. Depois, Amaro foi comandante militar do Sudeste e chefe do EstadoMaior do Exército.

No topo da carreira, o general de quatro estrelas está na reserva desde janeiro, depois de atuar como assessor estratégico da Presidência por cerca de oito meses ainda durante o governo de Jair Bolsonaro. O oficial também já foi secretário de Economia e Finanças do Exército.

A carreira de Amaro no Exército começou cedo, em 1974, quando entrou na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, onde se formou antes de seguir para a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Na Aman, o general foi da mesma turma de aspirantes do ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, que esteve à frente da pasta durante o período eleitoral, quando Bolsonaro tensionou ainda mais a relação com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ambos ingressaram na Academia em 1977. Além da formação militar, o general Amaro se especializou em Excelência Gerencial com ênfase em Gestão Pública pela FAAP e fez MBA Executivo em Administração pela FGV. Nascido na cidade de Motuca, em São Paulo, ele tem 65 anos e dois filhos, que também são oficiais do Exército.