O Estado de S. Paulo, n. 46637, 25/06/2021. Metrópole, p. A15

Um em cada cinco postos da cidade de SP volta a registrar falta de vacina

Felipe Resk
Natália Santos


Pelo menos um a cada cinco postos de saúde precisou paralisar o atendimento por falta de vacina contra covid-19 ontem. Na maioria dos casos, os transtornos aconteceram em unidades da periferia da capital. Segundo apurou o Estadão, a Prefeitura atribui os desabastecimentos à entrega em cima da hora do lote de imunizantes que seriam usados durante o dia, além da alta procura em áreas mais afastadas do centro.

Dados da plataforma “Filômetro”, elaborada pela gestão Ricardo Nunes (MDB) para informar a população sobre a situação dos postos de saúde em tempo real, mostram que ao menos 114 de 520 locais de vacinação, ou 21,9%, ficaram sem imunizante e tiveram de interromper o serviço. Entre eles estava um posto volante, três megapostos e quatro drive thrus. O horário de referência usado pela reportagem foi 13 horas.

O cronograma da Prefeitura priorizou o atendimento de pessoas de 48 anos, com meta de imunizar cerca de 105 mil pessoas na capital. Para isso, a gestão municipal contava com a entrega de 121 mil doses por parte do governo do Estado. Gestores de saúde, no entanto, relatam que o lote só chegou às 8 horas – enquanto o tempo adequado para realizar o repasse para os postos de saúde seria de no mínimo 24 horas.

Proporcionalmente, a região mais afetada foi a zona sul, com 63 dos 159 postos “aguardando abastecimento” – o equivalente a 39,6%. No Jardim Ângela, 15 dos 18 locais pararam por falta de vacina. No Jardim São Luís, só 3 dos 14 estavam abertos. Já no Sacomã, também havia quatro postos interrompidos.

Por sua vez, a zona leste parou 40 dos 187 locais de vacinação – a situação mais grave era na região do Carrão, com os dois postos fechados. Já a zona norte registrou três interrupções, todas no Tremembé, dentro de um total de 92 pontos. Centro e zona oeste tinham 100% dos lugares funcionando.

Professor da Faculdade de Medicina da USP, Jorge Kalil afirma que, apesar de a campanha ter conseguido acelerar recentemente, essas interrupções devem continuar acontecendo, enquanto a entrega de lotes for entrecortada. “Ainda está chegando de forma irregular, então há problemas de logística e de quantidade de vacina disponível”, diz.

Alta adesão. O secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido, diz que o problema não teria sido de logística, mas de alta adesão em locais mais afastados do centro. “Enquanto nos Jardins a gente vê o pessoal querendo escolher o tipo de vacina, as pessoas na periferia estão vacinando em massa. Ela vai lá e toma a que tiver”, afirma.

De acordo com Aparecido, a tendência da campanha a partir de agora, com o avanço por faixa etária, é aumentar a concentração na periferia – uma vez que a população é mais jovem. “Quando falta vacina em algum lugar, nós fazemos o remanejamento de doses e resolvemos o problema”, diz. “Hoje, também saímos ligando para as pessoas que encontraram os postos fechados e chamamos mais tarde. Pelos dados preliminares, conseguimos cobertura acima de 90 mil dos 100 mil possíveis.” Os dados do Filômetro registraram melhora na situação ao longo do dia. Em novo balanço realizado às 18 horas, a reportagem constatou dois postos de saúde aguardando abastecimento, além de outros 52 que já teriam parado de funcionar.

Estado. Em nota, a gestão João Doria (PSDB) culpa o governo federal e afirma que o lote de 121 mil doses foi repassado para a capital 12 horas depois que as vacinas chegaram ao Estado. “O Ministério da Saúde só entregou ao governo de São Paulo as doses da vacina da Pfizer que aterrissaram em Campinas na noite de terça-feira por volta das 19h desta quarta-feira. Essas novas doses que chegaram hoje se somaram a um estoque de cerca de 100 mil já existentes no Município na noite de ontem (dia 23) e suficientes para a continuidade da vacinação”, diz o comunicado, ressaltando o papel federal na logística.