O Globo, n. 32783, 10/05/2023. Economia, p. 12

Banco Central vê alta de juros “menos provável''

Renan Monteiro
Vitor da Costa


Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada ontem, o Banco Central não indicou queda dos juros, mas reforçou como “menos provável” o cenário que poderia levar à retomada do ciclo de aperto. Por três vezes, o texto pede “paciência” na condução da política monetária.

Na semana passada, em sua primeira reunião após a apresentação da proposta do novo arcabouço fiscal, o Copom manteve a Taxa Selic em 13,75% ao ano, conforme o esperado.

Na ata, o BC ressalta que continua “vigilante”, para verificar se a estratégia de manter os juros altos por período prolongado “será capaz de assegurar a convergência da inflação.”

“O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária. O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, diz a ata.

Índice ainda oscila muito

O BC, em linha com declarações de seu presidente, Roberto Campos Neto, diz que as expectativas de inflação continuam desancoradas, em parte pelos questionamentos sobre uma possível alteração das metas de inflação.

A autarquia argumenta ainda que a aprovação de um arcabouço fiscal sólido pode levar a uma melhora das expectativas, mas, assim como afirmou em seu comunicado no dia da reunião, ressaltou não haver “relação mecânica” entre a aprovação do texto e a convergência da inflação.

Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, argumenta que o arcabouço ainda não é uma discussão vencida e há incertezas, já que o texto pode ser alterado no Congresso:

— Mais aumento de gastos pressiona a inflação, e consequentemente, fica mais difícil para o Banco Central controlar o nível de preços.

A ata também refuta a tese defendida pelo governo, de que não há inflação de demanda no Brasil. “Os dados inflacionários mais recentes corroboram a visão de um processo de desinflação mais lento, em linha com a visão de uma inflação movida por excessos de demanda, em particular no segmento de serviços”.

Ariane Benedito, economista da Esh Capital e especialista em mercado de capitais, explica que a atenção do BC aos serviços se deve ao fato de a política monetária ser mais efetiva neste setor, pois provoca desaquecimento:

— Temos uma desinflação instável, e o Banco Central busca, para começar o início de cortes, uma desaceleração mais linear, mês a mês, bem como melhorias nas expectativas também. Atualmente, temos o índice e, principalmente, os núcleos oscilando muito.

O BC projeta continuidade na queda “relevante” no nível de inflação ao longo deste trimestre, mas com uma subida no segundo semestre. Isso se deve à perspectiva de reoneração dos combustíveis.

— Com essa ata, certamente não vemos uma sinalização do BC em realizar cortes na Selic na próxima reunião. Ainda é cedo para falar sobre a reunião de agosto. Precisamos acompanhar a evolução fiscal e da inflação — disse o sócio da Nexgen Capital, Felipe Izac.

Natura salta 15%

O Ibovespa subiu 1,01%, aos 107.114 pontos. Já o dólar recuou 0,49%, a R$ 4,9870. Segundo Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, o Ibovespa foi puxado por Vale e Petrobras, além de papéis ligados a consumo.

A maior alta do Ibovespa foi Natura ON (com voto): 15%. A empresa divulgou prejuízo de R$ 652,4 milhões no primeiro trimestre. Apesar disso, analistas viram melhora nas margens da empresa.

Os papéis ON da Petrobras avançaram 0,77%, e os PN (sem voto), 0,33%. Vale ON subiu 1,03%.