O Globo, n. 32787, 14/05/2023. Economia, p. 15

Campos Neto diz que é um voto de nove no BC

Renan Monteiro


O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, comentou na sexta-feira à noite a indicação de Gabriel Galípolo à cúpula da autarquia, afirmando que faz parte da “regra do jogo”. Em entrevista à CNN Brasil, Campos Neto ressaltou a autonomia de cada diretor do BC e lembrou que é “um voto de nove”, na decisão sobre os juros. —As regras do jogo são essas, vai vir um diretor ou mais de um diretor que têm opiniões diferentes. O que precisamos melhorar no Brasil é saber conviver com as regras, em vez de mudar as regras — afirmou Campos Neto, no programa “Caminhos com Abilio Diniz”. Além do presidente, o BC conta com oito diretores. Todos têm voto individual no Comitê de Política Monetária (Copom), que decide a taxa básica de juros (Selic) a cada 45 dias.

A Selic está em 13,75% desde agosto de 2022, o que tem motivado críticas diretas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de integrantes do governo, em função do efeito restritivo da política monetária na economia brasileira. As críticas, contudo, concentram-se em Campos Neto. — Tenho oito diretores que foram nomeados pelo Senado e têm liberdade de opinião. Eu sou um voto de nove e acho que a personificação atrapalha muito esse ganho institucional que a gente está tentando fazer — pontuou o presidente do BC.

Decisões unânimes

As mais recentes decisões da autarquia pela manutenção da Selic foram unânimes. Na entrevista, Campos Neto disse ainda que os juros altos também são resultado do elevado patamar da dívida pública no país, em contraponto às críticas de Lula:

— Se a dívida do governo fosse baixa, o custo do dinheiro seria menor para todos —afirmou. Segundo Campos Neto, não seria responsabilidade do BC quando o governo emite um título e tem de pagar rendimento de 6% acima da inflação, como ocorreu recentemente:

— Há um risco que justifica uma taxa de juro real de 6%.