Título: Cachaça, de marginal a chique
Autor: Adriana Bernardes
Fonte: Jornal do Brasil, 03/07/2005, Brasília, p. D1

Não faz muito tempo, convite para tomar cachaça era coisa de gente do interior também muito comum entre as camadas mais pobres da população. Nem era cachaça o termo usado. Era pinga, branquinha, engasga-gato, água-que-passarinho-não-bebe. O nome cachaça veio depois e com ele um novo status para a bebida que passou ser item obrigatório nas prateleiras de bares e restaurantes mais refinados. Conquistou também paladares acostumados aos melhores uísques importados.

Tudo ajudou a transformar a bebida, até então marginal, em algo nobre. Hoje, uma garrafa pode custar até R$ 120, valor que daria para comprar uísque, envelhecido há oito anos. A embalagem também está diferente, mais sofisticada, assim como os copos. Aquele tipo americano pequenininho foi substituído por outros de cristal com 24% de chumbo que é para dar mais transparência, brilho e luminosidade.

Para as mulheres, inventaram o flûte (copo de pé, longo e estreito, usado em geral para champanhe) miniatura, com pouco mais de 10 centímetros de altura, que se confunde com peça de colecionador.

- Elas preferem porque dá um ar de sofisticação e tira aquela imagem que a pinga tinha um tempo atrás de bebida marginal - afirma João Vianei, representante em Brasília do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e da Associação Brasileira de Enologia.

Conhecedor da sofisticação de alguns apreciadores da cachaça, Vianei investiu também na venda de copos e taças. São dezenas de modelos de todos os tamanhos para todos os gostos.

Apesar de entender de cachaça Vianei não esconde que sua paixão é pelo vinho. Filho de colonos do Rio Grande do Sul, ajudou a família na produção artesanal, tanto do vinho quanto da cachaça. Mas a branquinha só passou a fazer parte dos negócios este ano. Ele distribui duas marcas produzidas no Rio Grande do Sul, e garante, mesmo sem a intenção de criar um conflito com os mineiros, que a cachaça gaúcha é a melhor do País por causa do clima.

-A cana sofre os efeitos da geada, do frio e no Sul sempre tem umidade. Isso muda o teor de açúcar. E quanto maior é o teor de açúcar, maior o teor de álcool. Isso confere à cachaça gaúcha um sabor encorpado, forte - explica Vianei.