O Globo, n. 32789, 16/05/2023. Opinião, p. 2

Apesar da pressão, queda de juros seria prematura



É prematura a pressão para que o Banco Central (BC) reduza os juros. Pelos últimos dados do IBGE, o BC tem adotado uma política de juros responsável e não deveria ceder às pressões para mudá-la. Apesar de a taxa básica de juros permanecer em patamar alto (13,75%), a queda da inflação tem sido mais lenta que o esperado. Tal lentidão reforça a necessidade de os diretores do BC se manterem imunes aos ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de seus ministros, de cardeais do PT e das alas do empresariado tolerantes com o descontrole de preços.

Há, é certo, sinais positivos. Nos primeiros quatro meses deste ano, a inflação foi inferior à do mesmo período de 2022 (2,72% ante 4,29%). Em abril, o IPCA acumulado em 12 meses sofreu queda pelo décimo mês consecutivo e ficou em 4,18%, menor taxa desde outubro de 2020. Como o teto da meta do BC é 4,75%, é compreensível que muita gente diga estar na hora de baixar os juros. Infelizmente, não é o que sugere uma análise mais cuidadosa.

É alta a possibilidade de os preços ganharem novo ímpeto no segundo semestre. Metade do mercado estima o IPCA acima de 6,02% no final de dezembro. Mesmo que tal previsão não se materialize, há motivos para preocupação. Descontados os choques temporários nos preços de maior volatilidade — como energia ou alimentos —, a inflação tem se mostrado mais resistente que o esperado. A medida que capta essa tendência, chamada núcleo da inflação, continua em alta. De acordo com o BC, subiu de 0,37% em março para 0,51% em abril. O aumento se concentra no setor de serviços, onde a inflação em 12 meses foi de 7,49% em abril ante 7,63% em março.

Quais as causas da resistência? No jargão dos economistas, o Brasil vive uma inflação de demanda. Com a massa salarial em crescimento e o desemprego em patamar baixo na comparação com os piores momentos da pandemia, a procura por produtos e serviços tem se mantido elevada.

Contribui para a inflação alta um segundo ingrediente: as expectativas. Se os agentes financeiros acreditam que os preços subirão mais, fica mais difícil contê-los. É nesse quesito que influi a campanha difamatória de Lula contra o BC — baseada na noção ridícula de que a autoridade monetária é contra a queda dos juros. Ao deteriorar as expectativas, Lula dá uma força para a elevação dos preços.

Por fim, a tendência para os próximos meses é o governo dar impulso ainda maior à demanda, em razão da antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas, do aumento real do salário mínimo e do pagamento do reajuste salarial do funcionalismo público.

Se seguir dessa forma, Lula continuará jogando apenas para sua plateia, sem se preocupar com o poder de compra dos mais pobres, a parcela da população que mais tem a perder com a espiral inflacionária. Dá com uma mão para ficar bem com sua base de eleitores, mas tira com a outra com a inflação mais alta. Para piorar, mira no BC à procura de um bode expiatório pela falta de dinamismo da economia.