Correio Braziliense, n. 21492, 19/01/2022. Política, p. 4

Um sinal muito ruim

Bernardo Lima*


A possibilidade de o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (sem partido) ser vice da chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na corrida presidencial deste ano, tem sofrido críticas de setores da esquerda e integrantes do próprio partido. Para Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e principal expoente do PSol, a possibilidade de a chapa se concretizar é um “sinal muito ruim”.

Isso não quer dizer que o pré-candidato ao governo paulista tenha deixado de defender o apoio a Lula na disputa contra o presidente Jair Bolsonaro. Mas acredita que a melhor estratégia, do ponto de vista eleitoral, não é trazer Alckmin para ser vice da chapa: “Entendemos que o Lula é quem tem melhores condições de enfrentar e derrotar o Bolsonaro, que é o maior desafio deste ano. Agora, a possibilidade de Alckmin como vice, é um sinal muito ruim”, afirmou, em entrevista ao Correio Braziliense.

A possibilidade de o ex-governador tornar-se vice de Lula segue a mesma premissa que o PT adotou, em 2002, quando trouxe o empresário José Alencar para a composição da chapa à sucessão de Fernando Henrique Cardoso. À época, a ideia era quebrar resistência de setores mais conservadores e de centro e centro-direta a uma possível vitória petista.

Boulos criticou a administração que Alckmin fez de São Paulo e lembrou de operações de despejo durante o governo do ex-tucano, entre 2011 e 2018. Ele fez questão de citar o episódio da desocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos.

“Essa semana completam-se 10 anos do massacre do Pinheirinho, despejo desastroso coordenado por ele, em São José dos Campos”, criticou.

Coerência

Para Boulos, as articulações do PT para formar uma aliança devem ter coerência com o objetivo de superar o atual presidente, em outubro. “O PSol acha que é importante ter unidade e aliança, não apenas para derrotar o Bolsonaro, mas sim seu projeto como um todo. Nesse sentido, a aliança tem que ter coerência com essa perspectiva, e isso tem que se expressar no programa desta candidatura”, destacou.

A insatisfação em relação à aproximação do ex-presidente com o ex-tucano motivou filiados do próprio PT a criarem uma petição contra a eventual chapa. O abaixo-assinado, apresentado por Daniel Kenzo, do diretório petista no Butantã, Zona Oeste de São Paulo, exige que o partido escolha um vice que não tenha apoiado a chamada “operação golpista e neoliberal”, que resultou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016.

Em congresso interno realizado no ano passado, a maior parte do PSol votou por apoiar Lula e não lançar candidatura própria ao Palácio do Planalto, mas um setor expressivo se manifestou contrariamente. A legenda adiou a decisão final sobre respaldar o ex-presidente para este ano.

Em relação à sua candidatura ao governo de São Paulo, o coordenador do MTST garantiu que o congresso de seu partido definiu que vai levá-la até o final. Ainda segundo Boulos, o PSol está trabalhando pela construção de uma “unidade do campo progressista” para desbancar a hegemonia do PSDB — que governa o estado de São Paulo há 30 anos.

*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi