O Estado de S. Paulo, n. 46624, 12/06/2021. Metrópole, p. A20

Bolsonaro diz agora que quem decide sobre máscara é prefeito e governador

Gustavo Côrtes
Adriana Ferraz


Um dia após afirmar ter solicitado um parecer ao Ministério da Saúde para desobrigar o uso de máscaras no País, o presidente Jair Bolsonaro ajustou o discurso e disse que quem decidirá sobre a questão serão prefeitos e governadores. Ao deixar ontem o Palácio da Alvorada, o presidente afirmou que o pedido feito ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, é para que elabore um estudo sobre a possibilidade de pessoas vacinadas ou já infectadas dispensarem a proteção.

“Ontem pedi para o ministro da Saúde fazer um estudo sobre máscara. Quem já foi infectado e quem tomou a vacina não precisa usar máscara. Mas quem vai decidir é ele, vai dar um parecer. Se bem que quem decide, na ponta da linha, é governador e prefeito. Segundo o Supremo (Tribunal Federal), quem manda são eles”, afirmou Bolsonaro a apoiadores, distorcendo a decisão da Corte que deu autonomia a Estados e municípios para adotar ações para enfrentar a pandemia, mas não eximiu a União de agir.

Anteontem, em evento no Palácio do Planalto, Bolsonaro disse ter “ultimado” o ministro da Saúde para publicar um parecer sobre o uso de máscaras para quem já foi vacinado ou já foi infectado. “Ele vai ultimar um parecer visando a desobrigar o uso de máscaras por parte daqueles que estejam vacinados ou que já foram contaminados. Para tirar este símbolo (segurando uma máscara descartável na mão) que tem a sua utilidade para quem está infectado”, disse ontem, sendo aplaudido ao anunciar a medida.

A mudança do discurso ocorreu após uma série de críticas que ele sofreu, depois de informar o pedido feito a Queiroga. O ministro divulgou, horas mais tarde, um vídeo na qual disse que Bolsonaro “vê que em outros países, onde a vacinação está avançada, as pessoas já estão flexibilizando o uso das máscaras”. “Vamos atender à demanda do presidente, que está sempre preocupado com pesquisas em relação à covid.”

Sem prazo. Em entrevista à CNN Brasil, Queiroga disse não haver prazo para que o estudo seja concluído. “Queremos que seja o mais rápido possível. Para isso, precisamos vacinar a população brasileira e avançar”, afirmou ontem em São Paulo. Indagado quanto ao ritmo acelerado de vacinação em outros países, o ministro respondeu, exaltado, que será “o nosso caso”. “Estamos nos antecipando para termos posições sólidas em relação a todas as medidas a serem adotadas no enfrentamento da pandemia.”

Em seguida, ao ser questionado sobre a fala de que a decisão sobre usar ou não máscaras cabe a governadores e prefeitos, Queiroga declarou não ser “assessor das falas do presidente”.

O ministro participava da inauguração de leitos no Hospital Municipal de Guarapiranga, na capital, ao lado do prefeito Ricardo Nunes, que reafirmou a obrigatoriedade do uso de máscaras em São Paulo .

Apesar da mudança de discurso em relação às máscaras, Bolsonaro voltou a defender, nesta sexta-feira, que pessoas infectadas ou vacinadas não utilizem a proteção. Depois de perguntar aos presentes se tomariam a vacina, o presidente repetiu que “dará o exemplo” e será o último a se imunizar. “Alguns acham que o exemplo é se vacinar. Não, o exemplo é dar o lugar para quem está desesperado. Tem gente aí desesperada dentro de casa esperando ser vacinada para sair.” Aos 66 anos, Bolsonaro poderia ter sido vacinado desde março.

’Posições sólidas’ 

“Estamos nos antecipando para termos posições sólidas em relação a todas as medidas a serem adotadas no enfrentamento da pandemia.”

Marcelo Queiroga

Ministro da Saúde