O Globo, n. 32795, 22/05/2023. Política, p. 8

Temor de derrota fez Bolsonaro vetar Flávio

Marcelo Remigio


Além da justificativa de que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) terá de organizar o palanque dos candidatos a prefeito do PL nos 92 municípios fluminenses nas eleições do ano que vem, dois outros motivos pesaram no veto de sua candidatura à Prefeitura do Rio por seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro.

De acordo com aliados próximos ao ex-chefe do Palácio do Planalto, Bolsonaro confidenciou temer uma eventual reeleição do prefeito Eduardo Paes (PSD) com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, impondo uma nova derrota nas urnas à família.

Um possível fracasso de Flávio ainda teria um forte simbolismo, já que a capital é o reduto eleitoral dos Bolsonaros — no ano passado, o ex-chefe do Executivo teve mais votos que Lula entre os eleitores do município nos dois turnos da eleição presidencial.

O segundo motivo, ainda de acordo com aliados próximos a Bolsonaro, é a articulação da pré-candidatura a prefeito do deputado federal e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello (PL), que ganhou força entre os bolsonaristas. Ao apostar em Pazuello, um de seus homens de confiança, e na sua fidelidade, o ex-presidente garantiria o controle da prefeitura em uma eventual vitória. Além disso, num cenário de derrota, o ex-chefe do Planalto não assumiria o ônus do fracasso nas urnas, que ficaria para o candidato.

Pazuello se cacifou para a vaga de pré-candidato a prefeito ao ser eleito para Câmara como o segundo deputado federal mais votado (205.324 votos) no Estado do Rio, atrás apenas da deputada federal Daniela Carneiro (União), reeleita com 213.706 votos. Mulher do prefeito de Belford Roxo, Wagner Carneiro, o Waguinho, a parlamentar assumiu o Ministério do Turismo do governo Lula. Os dois trabalharam pela eleição do presidente na Baixada Fluminense, ganhando a confiança do petista.

Oficialmente, além da organização das candidaturas a prefeito, Bolsonaro também vinculou o veto à candidatura de Flávio à necessidade de deixá-lo no Senado para manter um braço da família na Casa. O suplente, o empresário Paulo Marinho, rompeu com Bolsonaro e, nas últimas semanas, chegou a ser procurado pela família na esperança de aparar as arestas. De acordo com interlocutores de Bolsonaro, mesmo pacificando a relação, o ex-presidente não apostaria totalmente na fidelidade de Marinho ao seu grupo.

Candidaturas a prefeito

Para bolsonaristas fluminenses, a decisão de retirar a pré-candidatura de Flávio foi considerada uma estratégia correta, já que o foco principal do PL no estado para 2024 é a ampliação do número de prefeitos e de vereadores. O partido tem hoje nove prefeitos no Rio.

— Foi uma decisão assertiva. Flávio é um articulador político e o partido precisa organizar as candidaturas em todos os municípios do estado. A meta é eleger, no mínimo, 40 prefeitos —afirma o deputado estadual bolsonarista e candidato a prefeito em Barra do Piraí, no Sul do estado, Anderson Moraes. — Mesmo com a saída do Flávio, o PL ainda mantém bons quadros com chances reais de vitória —avalia.

O veto ao senador Flávio por Bolsonaro abriu a bolsa de apostas sobre outros possíveis nomes da direita em 2024 no Rio.

Entre os cotados, além de Pazuello, estão o senador Carlos Portinho (PL), o deputado federal Otoni de Paula (MDB) e o secretário estadual de Saúde do Rio, Dr. Luizinho (PP). Também são citados o candidato a vice-presidente derrotado na chapa de Bolsonaro e ex-ministro, Braga Netto (PL), e o deputado estadual Alan Lopes (PL), eleito como a bandeira da preservação dos valores conservadores e da família tradicional.