Título: ONU deixa o Timor Leste
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/05/2005, Internacional, p. A8

Missão de paz só mantém administradores

DILI - Centenas de soldados das forças de paz das Nações Unidas deixaram ontem o Timor Leste, encerrando a missão para estabilizar a ex-colônia portuguesa após o sangrento plebiscito pela independência da Indonésia, em 1999, que deixou 1,5 mil pessoas mortas.

A missão de paz da ONU, que chegou a ter 11 mil soldado e civis - muitos deles brasileiros -, manterá no país 130 administradores, policiais e conselheiros militares. No último ano, havia cerca de 450 soldados.

As Nações Unidas confirmaram que segurança continua a ser um problema no Timor Leste, mas que ''havia mais importância na necessidade de treinar e transferir conhecimento para a polícia e unidades de controle das fronteiras''.

O Timor Leste, país predominantemente católico - em contraposição com a muçulmana Indonésia -, tornou-se independente em 20 de maio de 2002, após dois anos e meio de administração da ONU.

Em cerimônia para marcar o fim da missão internacional de estabilização, o presidente Xanana Gusmão disse a milhares de pessoas reunidas em um estádio na capital, Dili, que muito ainda tem que ser feito para construir a nação e reduzir a pobreza. Mas assegurou que o povo timorense tem grande poder de recuperação e reconheceu que a independência é um longo processo.

Mesmo com a saída das tropas de paz, a luta pela autonomia continua. O próprio Gusmão admite que a ilha depende da ajuda externa, pois tem de lidar com a herança deixada pelas milícias pró-Jacarta: assassinatos em massa, deportações forçadas e destruição da infra-estrutura. Tudo perpetrado, muitos acreditam, com o apoio das forças de segurança indonésias.

A economia, amplamente baseada em café, petróleo e exportações de gás, ainda não está criando empregos suficientes. A incipiente força policial ainda está aprendendo o ofício. E apenas um quarto dos suspeitos indiciados pela violência que se seguiu ao plebiscito de 1999 foram levados a julgamento.

O Timor Leste e a Indonésia recentemente criaram a Comissão da Verdade e da Amizade. No entanto, o órgão não terá poder para emitir condenações. Seis anos depois, os dois governos se esforçam para estabelecer um novo relacionamento para o futuro, ainda que isso signifique deixar a justiça de lado.