O Estado de São Paulo, n. 46741, 07/10/2021. Política p.A12

 

Diretórios de DEM e PSL aprovam fusão e aguardam TSE

 

Se Justiça Eleitoral der aval, União Brasil pode ser a maior sigla na Câmara, com 82 deputados, além de 4 governadores e 8 senadores

 

Lauriberto Pompeu



Os diretórios nacionais do DEM e do PSL aprovaram ontem a fusão entre as legendas. O União Brasil, como será chamado o novo partido, precisa do aval do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Se aprovada, a legenda terá a maior bancada da Câmara, com 82 deputados, além de quatro governadores, oito senadores e as maiores fatias dos fundos eleitoral e Partidário.

Será a primeira vez, em 20 anos, que a direita reúne tantos parlamentares em uma única agremiação. A última vez foi no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, quando o PFL (atual DEM) elegeu 105 representantes. A nova legenda será presidida pelo deputado Luciano Bivar (PE), atual presidente do PSL, e a secretaria-geral ficará com ACM Neto, que hoje comanda o DEM. Segundo políticos a par da fusão, o líder da bancada na Câmara deverá ser o deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), que conduziu as articulações para definir a união das siglas nos Estados e é aliado próximo de ACM Neto.

A expectativa dos articuladores é de que o tribunal dê a permissão à nova legenda até fevereiro, antes da abertura da janela partidária para as eleições de 2022. "Vamos agora decidir a política nacional não só no Congresso Nacional, mas em todos os Estados do País", disse o governador Ronaldo Caiado (DEM-GO), ao discursar na reunião do partido.

Antes da decisão conjunta, as direções do DEM e do PSL se reuniram separadamente para aprovar a fusão. O diretório do DEM do Rio Grande do Sul foi o único a votar contra a união. No PSL, a decisão foi unânime. Na reunião do DEM, o ministro do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni, que é pré-candidato ao governo gaúcho, apresentou dois requerimentos. Um para deliberar sobre o apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro e outro para dar direito a voto no diretório nacional a todos os deputados e senadores. Ambos foram rejeitados.

Os ministros da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres (filiado ao PSL), e da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (deputada licenciada pelo PL do Distrito Federal), também estiveram no evento que sacramentou a fusão.

A nova legenda, se referendada pelo TSE, terá força para decidir votações importantes e peso significativo num eventual processo de impeachment de Jair Bolsonaro. Caso a nova sigla seja concretizada, vai desbancar o PT, que desde 2010 é a maior bancada na Câmara. Em 2018, foram 54 petistas eleitos. Hoje, o partido tem 53 deputados, empatado com o PSL.

Os articuladores da fusão, no entanto, já esperam dissidências. Pela legislação, o político pode sair de uma legenda sem perder o mandato em caso de fusão. A previsão é de que 25 dos atuais 53 deputados do PSL ligados a Bolsonaro devem desembarcar. Também são esperadas saídas de aliados do presidente da República no DEM.

Para o DEM, a fusão tem vantagem financeira. A nova legenda terá cerca de R$ 158 milhões por ano de Fundo Partidário, dinheiro público destinado ao funcionamento das legendas – para efeito de comparação, o PT recebeu R$ 94 milhões dessa verba neste ano. Já para o PSL, partido que cresceu ao abrigar a candidatura presidencial de Jair Bolsonaro em 2018, com quem depois rompeu, os principais atrativos são a capilaridade regional e estrutura que o DEM passa a oferecer.

Apesar de a presidência ficar com Bivar, ACM Neto afirmou na semana passada ao Estadão que as decisões da nova legenda serão feitas de forma "compartilhada e colegiada". O União Brasil pretende pôr em prática uma cláusula que determina que qualquer decisão precisa ter o apoio de 3/5 da direção.

Estados. Para ser confirmada a fusão, no entanto, é preciso ajustar conflitos regionais. Estados como Rio e São Paulo não têm consenso sobre qual grupo político vai exercer o comando. Pelo acerto entre ACM Neto e Bivar, o PSL comandaria esses diretórios estaduais, mas líderes regionais do DEM resistem a ceder os comandos.

No Rio, o deputado Sóstenes Cavalcante comanda provisoriamente o diretório estadual do DEM. A sigla decidiu fazer uma intervenção federal no Estado para retirar o vereador Cesar Maia da presidência estadual após a saída do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, filho do ex-prefeito, da legenda.

Se for concretizada a fusão, o controle do diretório do Rio deve ficar com o prefeito de Belford Roxo, Waguinho, do PSL. "Não tem conversa com o Waguinho. Ele assumiu hoje, amanhã estou fora", disse Sóstenes.

Em São Paulo, também não há consenso sobre a eleição para governador. Uma ala tenta atrair Geraldo Alckmin, que está de saída do PSDB. Outra quer apoiar o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB).

O novo partido pretende ter candidatura própria ao Palácio do Planalto. Atualmente, são três pré-candidatos: o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e o apresentador José Luiz Datena (PSL). Ainda assim, a nova legenda pretende liberar seus filiados para apoiarem outros candidatos, como  Bolsonaro, que busca a reeleição em 2022.