O Estado de S. Paulo, n. 46618, 06/06/2021. Política, p. A6

Em nota, FHC e Lula criticam proposta do Brasil no Mercosul

Brenda Zacharias


Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) divulgaram ontem uma nota contra a proposta de redução tarifária unilateral por parte do Mercosul. É a primeira manifestação pública conjunta entre FHC e Lula desde que os dois almoçaram juntos, no fim de maio.

O texto apoia a posição de Alberto Fernández, presidente da Argentina, contrária à medida defendida pelo governo brasileiro. “Concordarmos com a posição do presidente da Argentina, Alberto Fernández, de que este não é o momento para reduções tarifárias unilaterais por parte do Mercosul, sem nenhum benefício em favor das exportações do bloco”, diz o texto assinado pelos dois ex-presidentes.

O governo de Jair Bolsonaro defende a redução gradativa da Tarifa Externa Comum (TEC) em pelo menos 20% a partir deste ano. Essa é a taxa cobrada por todos os países do Mercosul na importação de produtos de fora do bloco. A proposta é vista pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como um caminho para abrir e dinamizar a economia brasileira e é apoiada também por Uruguai e Paraguai.

Em abril, o governo argentino chegou a apresentar uma alternativa mais complexa, para que cada país escolhesse setores econômicos e produtos para reduzir tarifas. Negociadores, porém, afirmaram que o Brasil tinha pressa para encerrar a discussão. Os impasses fizeram com que a Argentina abandonasse novas negociações, citando a pandemia de covid-19 como um dos motivos para adiar a abertura econômica.

Na nota, FHC e Lula defendem a manutenção da “integridade do bloco”. “Concordamos também que é necessário manter a integridade do bloco, para que todos seus membros desenvolvam plenamente suas capacidades industriais e tecnológicas e participem de modo dinâmico e criativo na economia mundial contemporânea”, escrevem.

Esta é uma nova etapa da reaproximação entre os ex-presidentes. Em maio, eles almoçaram juntos, em encontro promovido pelo ex-ministro Nelson Jobim. O movimento faz parte da estratégia do petista de se apresentar como um pré-candidato moderado, mirando as eleições de 2022.